CulturaDialecto Algarvio

Súmula histórica do dialecto algarvio

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FALAR ALGARVIO por Sérgio Brito
Dialecto Algarvio
por Sérgio Brito

Foram vários os povos pré-romanos, que habitaram o território algarvio, os chamados povos primitivos. Destes povos, um dos mais eruditos, foram os Cónios ou Cinetes. Este povo era muito mais avançado do que se julgava até há pouco tempo. Deixaram-nos um legado extraordinário, que foi a sua escrita, conhecida como a escrita do sudoeste, e que tem vindo a ser estudada desde o Séc. XIX.

Recentemente, o epigrafista Carlos Castelo, decifrou finalmente esta escrita o que permite em breve reconhecer traços da mesma no nosso dialecto. Acredito piamente, que após 2.000 anos, ainda resistam vocábulos Cónios no nosso falar.

A transliteração da escrita do sudoeste, é um dos maiores acontecimentos jamais ocorridos no Algarve e em Portugal, colocando o epigrafista Carlos Castelo como um dos grandes da nossa história. Lamento que seja reconhecido internacionalmente e que, no nosso País, um acontecimento destes passe ao lado de quem o deveria dar a conhecer.

Existem muitos defensores da tese de que o nascimento do alfabeto ocorreu no Algarve. Cada vez mais esta teoria vai-se consolidando, o que coloca o Algarve no centro do mundo.

Outros povos por aqui habitaram e passaram deixando certamente as suas influências linguísticas. Os povos peninsulares como os Tartéssios e os Lusitanos esgrimiram território com os Cónios. No entanto também faziam trocas comerciais entre si. Os Cartagineses fundaram feitorias no Algarve e os Gregos as suas colónias. Após a ocupação Romana, os Visigodos e os Árabes foram também eles ocupantes do território algarvio.

LivroAlgarvioPromoTodo este mesclar de convivência entre povos distintos contribuiu para uma “ identidade” linguística do povo algarvio. Com a reconquista do Algarve pelos portugueses, a língua falada por estes novos colonos era o galego-português.

Como nos explica a Professora Maria Alice Fernandes, o que o dialecto algarvio ainda conserva maioritariamente nas suas características é o Português medieval.

A orografia do território sempre permitiu que as populações costeiras tivessem maior contacto com “gentes” vindas do exterior, contrastando com o interior onde as pessoas viviam isoladas do restante território nacional, servindo a serra de uma fronteira natural. Devido ao isolamento com outras línguas e com o Português padrão, assim como ao analfabetismo em geral da população, o dialecto tem-se mantido com as suas características.

Existem factores que têm contribuído para que o dialecto falado venha a perder grande parte das suas características fonéticas e vocabulares, nos últimos anos. A informação generalizada em Português-padrão pelos meios de comunicação, como os jornais, a rádio e televisão etc, com as ligações rodoviárias e outras, que têm permitido a vinda de milhões de pessoas de todos os lugares do mundo, assim como a escolarização da população algarvia, tem levado a que o isolamento que preservou o dialecto tenha vindo a transformar esta realidade.

Felizmente, ainda hoje é possível encontrar “bolsas de resistência” apesar dos factores já mencionados.

Por agora tem avonde; termo ainda muito usado, sendo o mesmo um arcaísmo do latim, legado dos romanos algarvios há mais de 2.000 anos.

(Continua. Até lá siga o Fássebuque Algarvio)

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A língua é nossa e é única, não a podemos perder

Livros do Algarve

Livro_DuasHistoriasCapa
Livro escrito por Sérgio Brito em dialecto Algarvio. Clique na imagem para saber mais

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