Opinião

O labirinto das obras da EN 125

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Foi já há alguns anos atrás que o então Primeiro Ministro, José Sócrates, anunciava, com alguma pompa e circunstância, próximo de Arão mas já dentro do concelho de Portimão, as obras que viriam remodelar, modernizar e transformar a estrada nacional 125 numa via de futuro. Com maior fluidez, maior segurança e outra comodidade, viria a ser fundamental para a mobilidade de todo o Algarve.

Os anos começaram a passar e esse anúncio tardava em chegar ao terreno. E eis que, quando, uns anos depois, algumas obras se começaram a fazer e nada correspondia ao anúncio que se fizera nem às expectativas que então foram criadas. Por estas paragens do barlavento, rotundas de grandes dimensões, com pouco critério, começaram a rasgar-se em detrimento de outros melhoramentos que foram postergados ou deixados para ocasião mais oportuna.

Foi o que começamos a ver no troço compreendido entre Lagos e Vila do Bispo. Logo ali no cruzamento das Quatro Estradas, que dá acesso à Praia da Luz, uma rotunda de grande dimensão foi rasgada. Mas pouco depois de começadas, essas obras foram deixadas ao abandono. A requalificação parecia ficar amarrada a mais uma sessão de propaganda política que se esvaziara nas ondas da austeridade. E, mesmo com as obras começadas, tudo ficou paralisado à espera de melhor oportunidade.

E esta chegou, também uns anos depois, com uma versão bem mais soft de requalificação. As rotundas continuaram a ser rasgadas, ultrapassada a austeridade, em locais onde é difícil de compreender a sua necessidade. E fazem falta noutros acessos a estradas municipais.

É o caso de uma grande rotunda na recta que vem a seguir ao cruzamento para Burgau. Logo mais adiante, temos a interseção que dá acesso à estrada dos Barões. Quem circula no sentido poente, pode aceder a essa estrada municipal. Mas quem circular no sentido nascente, não tem forma de entrar. Terá que continuar até à rotunda dessa recta para inverter a sua marcha e tomar então a direção de Barão de São Miguel ou de Barão de São João.

Quanto à rotunda implantada a meio dessa recta, como não tem qualquer acesso a uma localidade, questiona-se a sua funcionalidade. Talvez como o risco contínuo daria nas vistas demais, assim a recta foi quebrada e já se poderá justificar o impedimento, quer antes, quer depois, de se ultrapassar.

E, no que a ultrapassagens diz respeito, daqui até Vila do Bispo, quem por aí circular terá sempre de andar atrás do veículo da frente, independentemente da sua velocidade. Como o piso praticamente ficou na mesma, poder-se-á dizer que a grande requalificação se limitou à construção de algumas rotundas e à implantação, em toda a via, de um traço contínuo. Quanto aos dois pontos críticos, o cruzamento para Burgau e o da Raposeira, tudo ficou na mesma com os semáforos a imperar e a regular, como anteriormente, aqueles pontos da via.

Também no troço entre Lagos a Portimão, é muito questionável esta requalificação. As rotundas continuam-se a semear e o traço contínuo tornou-se uma espécie de recurso a que se deita mão independentemente da via exigir ou não a sua utilização.

É que, com esta requalificação, praticamente se deixou de poder ultrapassar, talvez com o intuito de empurrar os automobilistas para a Via do Infante e, deste modo, poder-se engrossar a facturação das suas portagens.

Mas há sempre excepções. É o que poderemos ver no interior de Odeáxere. Aí, contra todas as normas rodoviárias, pode-se ultrapassar e a seguir, na recta de Arão, o risco contínuo e até uns pequenos pilaretes proíbem qualquer ultrapassagem como é norma desta requalificação.

A requalificação parece ter sido pensada para  levar os automobilistas a fugir da EN 125

E se as rotundas se implantam em qualquer lugar, saídas há que foram anuladas e, para essas vias, por contraditório que seja, essas rotundas não foram criadas. É o que acontece na saída para Arão. Agora, para se sair ou entrar, dependendo do sentido, o automobilista ter-se-á de deslocar a uma das rotundas de acesso à Via do Infante. E uma fica já na entrada do concelho de Portimão e a outra ali ao lado da Torre. Quanto ao piso, a maioria estava em muito mau estado. E esse foi remodelado. Em outros pontos da via foi simplesmente remendado.

Se o panorama, entre Lagos e Vila do Bispo ou Portimão, é deveras surreal, ao longo de todo o Algarve acaba por ser basicamente igual. Mesmo com piso a necessitar de intervenção, locais há  em que a requalificação se limita ao risco contínuo ou aos pequenos pilaretes que retiram qualquer veleidade de se poder ultrapassar ou do utente se deslocar a um estabelecimento comercial do outro lado da via. E muitos são os estabelecimentos que ficaram mais isolados por estarem apenas de um dos lados.

Se a Estrada Nacional 125 já era um quebra-cabeças, com esta requalificação ainda mais se veio entupir e impossibilitar a sua utilização para qualquer deslocação ao longo de todo o Algarve. Como rua longitudinal, cada vez está mais congestionada e esta pretensa requalificação parece ter sido pensada para mais a congestionar e para levar os automobilistas a fugir do seu interior.

É caso para dizer que, com estas obras, acabaram por transformar a 125 num autêntico labirinto. E esta estratégia parece estar a dar os seus frutos. Mas a Via do Infante, com as suas portagens, não está a ser a alternativa. Muitas outras estradas secundárias se estão a procurar e há já muitos pontos que se começam a congestionar.

Perante este problema gritante, o Algarve ter-se-á de levantar e não deixar que as suas vias se comecem a congestionar e a entrar em colapso com prejuízos alarmantes para a economia regional e até nacional. Não se compreende, por isso, alguma passividade dos nossos autarcas em geral e até da comunidade intermunicipal.

É tempo de dizer basta, de se começar a exigir outra via longitudinal e a abolição das portagens na Via do Infante em nome da economia algarvia. Não é um privilégio que se está a reivindicar. Mas antes a defesa duma região que, com esta pretensa requalificação, se está a abalar. E, perante isto, a começar pelos nossos autarcas e deputados eleitos pelo Algarve, ninguém pode ficar indiferente.   

 

Lagos, 19 de Julho de 2017

Fernandes de Sousa

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