#009 – O meu melhor amigo
Os humanos gostam muito de fazer perguntas. Todo o tipo de perguntas. Parvas, na maior parte das vezes, lamento dizê-lo.
Acho que é só para não ficarem calados, precisam de falar para sentir que estão vivos, se calhar.
Quando vêem um puto pequenino, é fatal perguntarem se se parece mais com o pai ou com a mãe. Uma pergunta muito profunda. Depois, os miúdos crescem um bocadinho, começam a ir para a escola e a pergunta da praxe é: o que queres ser quando fores crescido? Como se o piralho fizesse alguma ideia…
Quando começam a namorar, perguntam ao par se gostam deles. Dah, se namoram é porque gostam um do outro. Ou, se calhar, porque têm frio.
Depois casam e o padre pergunta se aceitam casar e, entre outras coisas, serem fiéis um ao outro até que a morte os separe. Eles dizem que sim e, na maior parte das vezes, pelo que ouvi dizer, daí a seis meses estão separados. Gastam as perguntas tal como gastam o dinheiro, quando o têm, à balda, sem controlo e sem o mínimo de lógica e produtividade.
Em relação a mim perguntam muitas vezes de qual dos meus donos gosto mais. Obviamente que finjo não perceber, viro-lhes o rabo e vou dar uma volta. Não têm nada a ver com isso.
E, de qualquer forma, até nem convém que eles saibam, mas não é da Cristina, do Francisco, do Marco ou do Ricardo que eu mais gosto. É o aquecedor o meu melhor amigo. Sobretudo, nesta altura de tempo frio.
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