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Os deputados são pessoas como todos nós: adoram medronho

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Desde há alguns meses, quem, ao fim da tarde, passa de carro pelo Parchal deve ficar convencido de que está a cruzar não uma pequena localidade, mas uma cidade de dimensões consideráveis, tendo em conta o enorme fluxo de trânsito com que se depara.

Igualmente na baixa de Portimão, aí a partir das 5 da tarde, é ver as ruas atafulhadas de carros em direcção à ponte ‘velha’. Se, no meio da confusão, a malta ainda conseguir manter intacto o sentido de humor até pode dizer que podem nascer poucas crianças, mas, em contrapartida, deve ter-se verificado um surto brutal de ‘nascimento’ de carros, nos últimos tempos.

É claro que a razão para estas filas tem a ver com a tentativa de fuga por parte dos condutores às obras na E.N. 125 e, no caso de Portimão, da intervenção de que está a ser alvo a ponte ‘nova’.

Costuma-se dizer que não há fome que não dê em fartura e é bem verdade. Durante anos a fio pouco ou nada se fez na E.N. 125. Entretanto, alguém acordou e toca de construir mil e uma rotundas, reparar e asfaltar – aos bochechos, com calma, e numa estratégia de ‘pára, arranca’ – a estrada. Aparentemente, tudo é feito à bruta, sem controlo, sem coordenação e sem ter minimamente em conta que os automobilistas têm de continuar a fazer a sua vida, não podem ficar em casa à espera que as obras fiquem concluídas.

Mas o pior de tudo é que – não sei se repararam – já estamos quase em meados de Abril e daqui até ao Verão é um foguete. E corre-se o sério risco de ter os turistas por aí a chegar, a EN 125 em obras e a Via do Infante com portagens. A acontecer isso, vai ser o caos.

Vou colocar dinheiro de lado para ver se compro uma garrafa de medronho

A gente, às vezes, é um bocado injusta com os políticos. Que eles só se interessam pelos seus interesses, dos
amigos e das empresas a que estão ligados… Que não conseguem pôr as suas divergências de parte para, juntos, defendem o interesse público.

E a verdade é que não é assim. Enfim, é verdade que eles não se entendem em coisas menores como a
Segurança Social, a Saúde ou os impostos. Mas, naquilo que é essencial, são, realmente, capazes de, independentemente das suas ideologias, lutarem pelo que é mesmo importante.

Sinal disso mesmo são três propostas que baixaram agora a uma comissão do Parlamento. Apresentadas por dois partidos por alguns classificados como de “extrema esquerda”, PCP e Bloco, e por um que, às vezes, é social-democrata e noutras, liberal – o PSD – são muito parecidas e pacíficas, pelo menos entre os partidos que estão fora do Governo.

No essencial, pedem que se baixe os impostos e as taxas sobre… a produção da aguardente de medronho.

Por aqui se constata que os deputados são gente com sentido de Estado e que percebem bem o que é realmente fundamental para a população que representam. Provavelmente, também esperam que, com menos impostos em cima, o preço de uma garrafita de medronho baixe substancialmente e eles possam, com maior frequência, substituir o whisky estrangeiro por medronho bem português.

Eu também tenho essa esperança. E vou, desde já, começar a meter uns trocados de lado, todos os meses. Pode ser que, daqui por quatro ou cinco anos, então com os impostos mais baixos, consiga, enfim, comprar uma garrafa de medronho.
(Opinião, Jorge Eusébio)



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