Os primeiros ‘retornados’ portugueses
O termo “retornado” é frequentemente utilizado (muitas vezes erradamente) para designar o regresso à metrópole dos portugueses residentes nas ex-Colónias, no seguimento da independência desses territórios.
Muitos desses portugueses acabaram por se radicar na região algarvia, onde ainda permanecem, perfeitamente integrados socialmente. Muitos algarvios das gerações mais recentes são descendentes de indivíduos que vieram das ex-colónias, transportando uma mistura genética que pouco tem a ver com a originária algarvia.
Apesar de este ser o movimento de “retornados” mais presente na memória colectiva, a verdade é que a região algarvia já tinha recebido, no Século XVII, uma vaga de portugueses de regresso à metrópole.
Em 1661 foi celebrado um tratado de paz e de amizade entre Portugal e a Grã-Bretanha, segundo o qual o rei Carlos II de Inglaterra casava com D. Catarina de Bragança, que levaria no seu dote de casamento as praças de Tânger e de Bombaim, que passariam a pertencer ao Império Britânico. Com esta entrega, a população portuguesa abandonou a cidade de Tânger, tendo sido obrigada a fixar-se no Reino do Algarve.
A 5 de Janeiro de 1662 o Governador do Algarve informou que tinha 200 casas disponíveis, em Faro, Portimão e Alvor, para acomodar as famílias vindas de Tânger.
A 2 de Maio de 1662 o Governador do Algarve elaborava a lista de distribuição das famílias de Tânger pela região algarvia:
Na cidade de Lagos se alogarão 212 cazais com 692 pessoas em que entrão 55 homens de cavallo e 115 soldados que poderão tomar armas.
Nas villas de Alvor e Villa Nova 77 cazais com 253 pessoas 22 homens de cavallo e 41 soldados que poderão servir.
Na cidade de Faro 78 cazais com 270 pessoas 11 homens de cavallo 53 soldados que podem servir.
Na cidade de Tavilla se alogarão 130 cazais com 452 pessoas 52 homens de cavallo e 73 soldados que poderão tomar arma.
Somão os cazais 497, pessoas 1667, homens de cavallo 140 soldados que poderão tomar armas 282; tirarão se esta de listas das que em seu poder tem o enformador. – in Cartas dos Governadores do Algarve (1638-1663), Alberto Iria.
Muitos algarvios da actualidade possuem, na sua árvore genealógica, ramos de ascendência de famílias de Tânger, que vieram para o Algarve em 1662.
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