A vida difícil de quem gere um lar de idosos
(Primeira parte de uma reportagem originalmente publicada no Portimão Jornal, que pode ler na versão impressa ou online, aqui. Pode ler a 2ª parte aqui).
A pandemia da Covid-19 fez com que a instituição que Mário de Freitas lidera na Misericórdia de Alvor tivesse de alterar o seu modo de funcionamento para cumprir as regras da Direção-Geral da Saúde e, assim, diminuir o risco do aparecimento e disseminação do vírus.
Uma das estratégias seguidas passou por “organizar os nossos recursos humanos no sistema de espelho”. Isso significa que, ao longo de cada semana, há três equipas a trabalhar por turnos e igual número de funcionários em casa. O objetivo é que, na eventualidade de surgir um foco de infeção entre o pessoal, ele fique circunscrito a quem está num determinado turno. Os elementos que o compõem serão colocados em quarentena e substituídos pelos de outra equipa.
A mesa administrativa a que preside achou, também, que havia a necessidade de encerrar os centros de dia e de convívio. Dolorosa foi, igualmente, a opção de suspender a visita dos familiares dos idosos, pois “o nosso espaço não tem condições para que sejam feitas em condições de segurança”.Para tentar que a separação não doesse tanto, “colocámos no exterior uma rede separadora, possibilitando a que, a alguma distância, os familiares possam continuar a falar com os utentes, sem entrar nas instalações”.
O provedor diz que as restrições causadas pela pandemia “têm afetado praticamente toda a gente, mas em especial, os mais idosos”. Por parte dos funcionários da instituição e de si próprio, “tudo fazemos para minorar a solidão que sentem, mas não é uma tarefa fácil”.
Maior empregadora da freguesia
O lar conta com 28 utentes, o centro de dia de Alvor era frequentado por 16 e o dos Montes de Alvor por 21. Outra valência da Misericórdia é uma creche que tem, nesta altura, 80 crianças – passarão a ser 84 muito em breve – e onde foram também tomadas as necessárias medidas de prevenção. Do património da instituição fazem ainda parte uma Igreja e um Museu Etnográfico.
Para além da sua relevante missão de apoio social, a Misericórdia também tem uma função económica muito importante, uma vez que “é a maior empregadora de Alvor, com cerca de meia centena de trabalhadores”. O cargo, que exerce desde 2017, “de forma inteiramente gratuita, porque o que me move é apenas o sentido de missão”, tem-se revelado “uma extraordinária experiência humana, muito enriquecedora, naturalmente que com momentos alegres e tristes”.
Ainda assim, não pretende recandidatar-se após o final do atual mandato, que termina em janeiro do próximo ano. Desde logo porque, como leva a sua tarefa muito a sério, o seu dia a dia é quase por completo vivido na instituição, sobrando-lhe pouco tempo para a família e o lazer. Também considera que “as pessoas não devem eternizar-se nestes cargos” e que, “juntamente com a equipa que me acompanha, cumpri os objetivos assumidos”. Nesta altura, garante com orgulho, “a Misericórdia está devidamente organizada e não deve nada a ninguém”.
O provedor faz, também, questão de destacar “o extraordinário trabalho” desenvolvido pelo Secretariado Regional da União das Misericórdia Portuguesas que, sob a liderança de Armindo Vicente, “muito tem feito para que estas instituições tenham conseguido responder de forma extremamente positiva à dura realidade com que nos deparamos”.
(Primeira parte de uma reportagem originalmente publicada no Portimão Jornal, que pode ler na versão impressa ou online, aqui. Pode ler a 2ª parte aqui).
A seguir, na 3ª parte: O homem que conseguia levar o povo às assembleias políticas.
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