Política

A vida de Rui Sacramento dava um filme

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O primeiro contacto formal que Rui Sacramento teve com o Partido Comunista Português (PCP) deu-se no longínquo ano de 1962.

Recorda-se que o encontro que teve com o elemento que exercia as funções de ‘controleiro’ realizou-se de forma muito discreta, “debaixo de umas árvores que existiam a seguir à Ponte Velha que liga Portimão ao Parchal”.

Dessa ‘reunião’ com um homem cujo verdadeiro nome desconhecia resultou o convite para que assumisse, com apenas 17 anos, a responsabilidade de reorganizar o comité local daquela força política em Portimão.

Na altura, vivia-se em pleno Estado Novo e todos os contactos e movimentações tinham que ser feitos no máximo secretismo. Por questões de segurança, todos os elementos do partido usavam pseudónimos e estavam organizados em células de três elementos, para evitar que se algum fosse apanhado pela polícia política, a PIDE, houvesse o risco de consigo arrastar muitos outros camaradas. Os contactos eram feitos em horas e locais pré-determinados ou numa ou outra casa que consideravam segura.

Estranha forma de distribuição de jornais

O órgão de informação do partido era – e continua a ser – o jornal ‘Avante!’, que tinha uma curiosa forma de ‘distribuição’ em Portimão. Rui Sacramento lembra que “era escondido por detrás de um grande espelho que existia na casa de banho do mais popular café da cidade, a Casa Inglesa”. Quando o queriam ler, os comunistas locais deslocavam-se aí, agarravam nele, levavam-no para casa e depois voltavam a deixá-lo no mesmo local. Aquele revelou-se um esconderijo seguro, pois “apesar de por ali passarem muitos elementos da PIDE, nunca o descobriram”.

Por vezes, Rui Sacramento e os seus camaradas, para tentarem passar a mensagem aos não militantes, iam de noite para a Praia da Rocha e deixavam folhetos nos toldos que, ao chegar, de manhã, as pessoas liam, antes da polícia ser alertada e confiscar o material.

Uma das suas prioridades foi “organizar a malta das 21 fábricas conserveiras que, nesse tempo, existiam só nas zonas de Portimão e Lagoa, de forma a lutarem pelos seus direitos e por melhores condições de vida”. Outra atividade económica importante era a das pescas. Na altura, “no concelho havia cerca de meia centena de traineiras, cada uma delas com uns 22 homens, portanto era muita gente que, de forma direta e indireta, vivia do setor”.

Os pescadores organizaram uma greve que, a partir de Portimão, acabou por alastrar a outras cidades algarvias como Lagos, Olhão e Vila Real de Santo António. Em vez de irem ao mar, ficaram na zona do Largo do Dique, “a andar de um lado para o outro, em grupos de apenas dois ou três, para que não os pudessem acusar de estar a fazer uma manifestação”. A tensão era grande e para lá foram destacados militares da GNR a cavalo que com a sua presença tentavam intimidar os pescadores. Também por ali se viam elementos que se sabia serem informadores da PIDE, mas tudo acabou sem problemas de maior.

(Primeira parte de uma reportagem originalmente publicada no Portimão Jornal, que pode ler na edição em papel ou online aqui)

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