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A história do alvorense que andou a pescar bacalhau na Gronelândia

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(1ª parte de uma reportagem com o pescador Sabino Pereira, que também pode ler na edição em papel do Portimão Jornal ou online, aqui)

Sabino Pereira é um ‘filho’ de Alvor que sabe praticamente tudo o que há para conhecer sobre a arte de apanhar peixe, quer seja ao anzol, com alcatruzes, com cofres ou à rede. Foi logo aos 15 anos que tirou a cédula marítima e começou a ir ao mar, seguindo, assim, os passos do pai.

Um dos períodos mais marcantes da sua vida foi aquele em que andou na pesca do bacalhau, nos mares da Gronelândia, a bordo do navio português ‘Novos Mares’. Lembra que “cada temporada durava cerca de seis meses e desenvolvia-se entre maio e outubro”. O barco arrancava de Aveiro e navegava cerca de duas semanas até chegar ao seu destino.

O dia de trabalho tinha início logo pelas quatro horas da madrugada, que era a altura em que todos se levantavam dos beliches. Pouco depois, o cozinheiro tocava o sino, o que indicava que o pequeno-almoço estava pronto.

Para além da tripulação, dos pescadores, dos mantimentos e das artes necessárias para a pesca do bacalhau, a grande embarcação transportava, empilhados no convés, pequenos barcos, os ‘dórias’, que eram largados no mar através de ganchos.

Cada um dos 46 pescadores metia-se num deles e, através do sistema de pesca à linha, tentava, ao longo das horas seguintes, apanhar o máximo possível de exemplares do tão apreciado peixe.

Nessas alturas, diz Sabino Pereira, “o maior medo que tínhamos é que viesse uma baleia na nossa direção”. Quando havia sinais de que uma se aproximava “fazíamos barulho, batendo muitas vezes com um pau no barco, para que se assustassem e mergulhassem para o fundo do mar”, evitando assim que embatessem contra a embarcação.

No final do turno, voltavam ao ‘Novos Mares’ e, depois de descarregado, era apontado o bacalhau que cada um apanhava. Quando a pescaria era muito boa, “o capitão punha uma cassete de música do Norte a tocar e o moço da copa distribuía bagaço e um cigarrinho a cada um”. Mas isso era só quando as coisas tinham corrido mesmo muito bem porque “nos outros dias não havia nada para ninguém”.

“A coisa mais linda que já vi”

As jornadas de trabalho eram longas e cansativas. Às horas que passavam nos pequenos barcos, à pesca de bacalhau, somavam-se as que eram consumidas a ‘iscar’, ou seja, a preparar os anzóis para a pescaria seguinte e a amanhar e salgar o peixe capturado.

Havia fases em que o mar e as condições meteorológicas não ‘colaboravam’, o que impedia a faina e, consequentemente, diminuía o rendimento de todos, uma vez que o que recebiam dependiam do que pescavam. Às vezes, ainda arriscavam, faziam várias tentativas para colocar os barcos na água, mas logo tinham que os içar de volta.

O que, de alguma forma, ainda compensava todo aquele esforço e sacrifício era o espetáculo proporcionado pela natureza, sobretudo o céu, que “tomava todas as cores, era a coisa mais linda que já vi”. E, se não fosse o intenso trabalho que tinham, podiam apreciar esse panorama tranquilamente, ao longo de muitas horas, pois, durante uma parte substancial do período que ali passavam, “era sempre dia, não havia noite”.

A vida de Sabino Pereira na pesca do bacalhau começou quando tinha 20 anos e desenvolveu-se ao longo de quatro temporadas. Apesar de dura, aquela era uma atividade bem mais rentável do que a que teria se ficasse em Alvor.

Em cada ano, antes de arrancar para terras distantes, ia fazer a necessária matrícula à Fuzeta, o que lhe garantia um rendimento de sete contos, a que iria somar as verbas que conseguisse em função do que pescava.

Para ganhar esse dinheiro, tinha, no entanto, de fazer grandes sacrifícios, não só em termos de trabalho, mas também familiares. Um deles foi não ter visto nascer a sua filha, por estar numa temporada da pesca do bacalhau. Quando voltou a casa “já ela tinha uns três meses”.

A seguir, na 2ª parte da reportagem: Acidente fatal

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