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Histórias da pesca do bacalhau: Acidente fatal

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(2ª parte de uma reportagem com o pescador Sabino Pereira. Leia a 1ª parte aqui ou no Portimão Jornal, na sua edição em papel ou online, aqui)

A vida de Sabino Pereira na pesca do bacalhau começou quando tinha 20 anos e desenvolveu-se ao longo de quatro temporadas nos mares longínquos da Gronelândia.

Num ambiente agreste como o que enfrentava, os acidentes aconteciam com alguma frequência, felizmente, na maior parte dos casos, sem consequências fatais.

No seu caso, o mais complicado teve a ver com “um anzol que saltou e furou-me a mão quando estava a pescar”. Sem poder remar, teve de esperar que uma baleeira o viesse buscar. Foi assistido pelo enfermeiro do navio, “que me tirou o anzol da mão, deu-me uma injeção e medicação, mas devido a isso acabei por ter de ficar 15 dias sem poder pescar”.

Um outro navio da empresa para a qual trabalhava “apanhou um ‘rabo’ de ciclone e ficou praticamente destruído, mas, por sorte, não morreu ninguém”.

Mas o episódio mais dramático, em termos humanos, aconteceu no último ano em que andou na pesca do bacalhau. Devido ao mau tempo que se fazia sentir “dois colegas perderam o equilíbrio e caíram, um ainda se salvou, mas não conseguimos socorrer o outro e lá ficou”.

A triste notícia foi comunicada para Portugal e ao voltarem ao porto de Aveiro tinham a aguardá-los uma multidão de pessoas, todas vestidas de preto, em sinal de luto pelo pescador falecido.

Este episódio afetou Sabino Pereira de tal maneira que acabou por não querer voltar à pesca do bacalhau, encerrando, assim, esse capítulo da sua vida, aos 24 anos.

Venda de água em carros de besta

Mas, agora no Algarve, manteve-se ligado ao mar, até se reformar, “a pescar polvo, sargo, dourada, besugo, sardo e safia”. Durante uns anos andou em traineiras até que resolveu adquirir um pequeno barco e trabalhar por conta própria.

A atividade continuava a não ser fácil, mas garante que “se conseguia poupar dinheiro, até porque o custo de vida era muito mais baixo do que é hoje. Com o fim do escudo e a entrada do euro ficou tudo mais caro”.

O pescador lembra que Alvor era uma terra muito diferente da que hoje conhecemos, “eram poucas casas existentes e à sua volta só havia terrenos e fazendas”. As casas de banho eram um luxo praticamente inexistente e não havia redes de esgoto nem de água.

A população local tinha que ir abastecer-se do precioso líquido a chafarizes, cisternas e poços que existiam nas imediações ou, em alternativa, esperar pela passagem de vendedores que se deslocavam em carros de besta com cântaros cheios de água.

“Têm mais dó do peixe do que dos pescadores”

A estrada que ligava a povoação a Portimão “era em terra batida e durante muito tempo as deslocações eram feitas também em carros puxados por cavalos, só mais tarde é que começaram a surgir as camionetas da Castelo & Caçorino, que transportava as pessoas e o peixe”.

Também se lembra de uma situação que hoje em dia parece surreal, que era a da obrigatoriedade de tirar uma licença para se ter um isqueiro. Sabino Pereira diz nunca ter sido multado por não possuir essa autorização legal, mas viu várias situações dessas.

A partir da década de 1960, os turistas descobriram a sério o Algarve e, aos poucos, tal como uma parte considerável da região, Alvor foi-se transformando e adaptando à nova indústria do lazer.

No seu caso, essa evolução assegurou-lhe uma adicional fonte de rendimentos, pois, ao longo de cerca de uma década, a par do trabalho de pescador, passou também a levar turistas a visitar as grutas, o que lhe permite que hoje garanta que “conheço os ‘buracos’ todos da costa desde Benagil à Ponta da Piedade”.

Muita coisa mudou, mas no que diz respeito aos homens do mar não foi para melhor”, em parte porque, no ‘seu’ tempo “podia-se pescar em qualquer lugar e agora não”. Para além disso, “cobram aí entre 150 a 200 euros por mês a um pescador para usar um pequeno espaço onde possam colocar as suas artes”.

A isto há a somar o forte aumento do gasóleo para os barcos e as mil e uma restrições e custos que existem, “é preciso pagar para tudo e mais alguma coisa”, o que o leva a desabafar que “não deixam as pessoas trabalhar, têm mais dó dos peixes do que dos pescadores”.

Leia aqui a 1ª parte da reportagem

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