“Defender o Hospital de Lagos é defender a saúde das populações de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur”
Foi há três anos atrás que esta presidência se iniciou e que Joaquina Matos inaugurou, em Lagos, um novo mandato autárquico. Pela primeira vez, uma mulher passava a presidir aos destinos da autarquia com o propósito de se aproximar e de criar um novo relacionamento com todo o tecido social, económico e cultural. A par destas boas intenções, moravam outras pretensões; as de equilibrar as depauperadas finanças da Câmara.
Com o mandato em recta descendente, é altura de o analisar já que o tempo que está por diante começa a ser de uma campanha velada ou assumida por todos os agentes políticos. Com o intuito desse balanço, desafiamos Joaquina Matos a percorrer e a dizer o que fez ou o que ainda tem por fazer nesta etapa que falta percorrer até às eleições que se aproximam a passos bem apressados. E uma pergunta que não poderia faltar é se vai continuar ou se dá já por terminada a sua refrega política.
Mas, para além das questões de política mais caseira, quisemos percorrer os caminhos da saúde, da educação, de monumentos que há que recuperar, do ambiente com a recolha do lixo que nos tem vindo a castigar e o das finanças públicas que se começam a equilibrar. Também algumas obras em curso e as que se pretendem fazer mereceram a nossa atenção bem como outros campos de intervenção.
Foi uma conversa fluida e muito abrangente em que a nossa entrevistada se foi soltando e dando largas ao que fez, ao que pretendia fazer e sem esquecer a equipa que a acompanha e que quer levar para, conforme é sua intenção, inaugurar um segundo mandato à frente da Câmara de Lagos.
Esta 1ª parte da entrevista é dedicada às questões políticas e ao relacionamento com o Governo.
Algarve Marafado (AM) – A sua chegada à presidência da Câmara de Lagos deveu-se mais à famosa lei da paridade ou às suas qualidade políticas?
Joaquina Matos (JM) – Não é fácil estar a pronunciarmo-nos em causa própria. Mas sempre lhe poderei dizer que a minha chegada à presidência da Câmara de Lagos teve muito a ver com o meu percurso de vida. Como sabe, possuo experiência como autarca. Nesta qualidade, fui membro da Assembleia Municipal, fui vereadora na oposição e, nos últimos dez anos, desempenhei as funções de vice-presidente. Toda a experiência que fui adquirindo foi muito importante para aceder a estas funções que, presentemente, estou a desempenhar à frente dos destinos do município de Lagos.
AM – E como é que tem sido este desafio para si?
JM – Como se poderá compreender, são funções muito absorventes mas, ao mesmo tempo, também bastante aliciantes. É gratificante saber que estamos a resolver os problemas de muitas pessoas. Quando vemos que o nosso trabalho está a contribuir para o bem-estar de todos, sentimo-nos compensados e incentivados a trabalhar cada vez mais e melhor.
AM – Está a preparar-se para continuar?
JM – Não direi que estou a preparar-me para continuar, pois a nossa continuação obedecerá a um processo natural. Estamos a desenvolver um trabalho que requer continuidade, mas para isso, o partido terá de nos convidar. Posso, por isso, dizer que, com tudo a correr dentro da normalidade, tudo indica que possamos continuar.
AM – Pensa continuar com a equipa que a acompanha ou tenciona fazer alguma renovação?
JM – Temos desenvolvido um bom trabalho de equipa e de inter-ajuda. À medida que vamos trabalhando, vamo-nos melhor conhecendo e melhorando esse trabalho. Em princípio, é para continuar com as pessoas que estão comigo. Como se costuma dizer, em equipa que ganha não se mexe. E esse é o nosso intuito.
“Desconheço qualquer pretensão de integração de António Marreiros num novo grupo, plataforma ou força política”
AM – Ao longo do mandato, passou já por alguns ‘sobressaltos’. E um deles foi o da saída da vereadora Maria Fernanda Afonso. O que é que esteve na origem dessa saída: problemas de incompatibilidades, visões diferentes ou concepções divergentes na forma de encarar a gestão dos destinos do município?
JM – A professora Maria Fernanda Afonso foi nossa vereadora integrando a equipa inicial. Desenvolveu o seu trabalho com competência e muita dedicação. Por isso, só temos de lhe estar gratos. A determinada altura tomou outra opção – a de pedir a renúncia ao mandato. Só temos que a respeitar e seguir em frente. Desejamos-lhe tudo de bom e, da nossa parte, continuamos a trabalhar e a fazer o nosso melhor.
AM – É por isso que, caso seja eleita, para evitar outros sobressaltos, vai levar consigo a equipa que a acompanha e que já conhece bem?
JM – Em relação a este grupo, posso dizer que ganhámos experiência, conhecemo-nos bem e, à medida que trabalhamos, vamos reforçando laços de cumplicidade e amizade. Aprendemos, cada vez mais, a funcionar como equipa, observamos com entusiasmo os bons momentos e sabemos ser solidários para ultrapassar os obstáculos que nos surjam pelo caminho. Encaramos as dificuldades com determinação e com respeito de uns para com os outros.
AM – Consta, nos meios políticos, que há um grupo, uma Plataforma, que pretende concorrer às próximas eleições autárquicas. E que o socialista António Marreiros está a posicionar-se para, por aí, também avançar. O que é que se está a passar no interior do PS para isso acontecer?
JM – Que eu saiba, o Partido Socialista está bem e recomenda-se. No que se refere ao António Marreiros, desconheço qualquer pretensão de integração num novo grupo, plataforma ou força politica. António Marreiros é militante do Partido Socialista, membro da Assembleia Municipal, e o nosso relacionamento é normal e cordial.
AM – Diz-se que há pessoas oriundas de diversos partidos nessa plataforma. Receia que lhe façam mossa em termos de resultados eleitorais?
JM – O que posso garantir é que, enquanto aqui estivermos, eu e a minha equipa faremos o melhor que pudermos. Quanto ao resto, o PS nunca pensou ir sozinho a eleições. Já temos muita concorrência. Se aparecer mais uma formação política, encaramo-la com a mesma naturalidade com que encaramos as demais. Quanto ao resto, é a democracia funcionar. O povo que decida de acordo com as suas preferências.
AM – É verdade que a Câmara de Lagos está equacionar a possibilidade de convidar, para gerir o Plano Director Municipal (PDM), Nuno Marques, que é um dos nomes de que também se diz que poderá estar ligado à Plataforma?
JM –Essa é uma hipótese que não foi equacionada. Apenas poderei dizer que Nuno Marques é um técnico de muita competência, na sua área de formação, que é o urbanismo. Se está, ou não, ligado a essa plataforma, é assunto a que só ele poderá responder. Eu desconheço.
AM – O que é que gostava que ficasse a marcar este mandato?
JM – Gostava que este mandato ficasse marcado por um trabalho de rigor e de competência e, naturalmente, que, apesar das dificuldades, conseguisse responder às necessidades da população. Gostaríamos que, respondendo às necessidades do presente, conseguíssemos criar as condições financeiras necessárias a que se volte a sonhar e a projetcar, com visão e ambição, um Lagos ainda melhor para todos.
Leia também a 2ª parte da entrevista
Mais médicos para o Hospital de Lagos
AM – Uma das queixas que os autarcas do PS – em especial, do Barlavento – tinham em relação ao anterior Governo dizia respeito aos cuidados públicos de saúde. Mas parece que, com o actual executivo, nada de relevante mudou. A prova disso está no comunicado bastante duro que a Câmara de Lagos, há muito pouco tempo, deu a conhecer em relação à forma como funciona o Hospital de Lagos.
JM – Continuamos a manifestar o nosso desagrado com o actual sistema de fusão dos hospitais. Este sistema não veio resolver problema nenhum. Pelo contrário, contribuiu para um agravamento dos problemas de saúde da região.
No que a Lagos diz respeito, continuamos a manifestar o nosso desagrado pelo esquecimento a que o Hospital de Lagos tem sido votado. Os lacobrigenses estão unidos em torno do hospital da cidade. É, por isso, com muito desagrado que tomamos conhecimento que por vezes, nas urgências, há apenas um único médico de serviço.
A nossa luta, junto do Ministério da Saúde, tem a ver com o modelo que foi escolhido, com esta fusão que, mais do que resolver, veio agravar os problemas de saúde entre nós. É por isso que, em relação ao Hospital de Lagos, temos de dar-lhe a atenção que merece. Defendê-lo é defender a saúde das populações de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur.
AM – Em concreto, a vossa luta tem apenas a ver com o reforço de meios humanos ou estende-se a outros sectores?
JM – Tem a ver, sobretudo, com a necessidade de mais meios humanos. É importante que o hospital tenha médicos suficientes para se poder atender e tratar as pessoas que ali chegam.
Em termos de cuidados primários, manifestámos o nosso regozijo e demos todo o nosso apoio à instalação de uma Unidade de Saúde Familiar no Centro de Saúde. Essa instalação permitiu que um número muito interessante de cidadãos, que não tinham médico de família, passassem a tê-lo.
Apesar de tudo, a saúde, no concelho, tem tido respostas positivas através do Hospital S. Gonçalo. Trata-se de um grande equipamento. Mas, não obstante os protocolos existentes que concedem descontos em consultas e exames, não deixa de ser um hospital privado que não é acessível a todos.
Falta construir as rotundas do Chinicato e Sargaçal
AM – No que diz respeito às obras na EN 125, o que é que falta fazer no concelho de Lagos?
JM – Esta tem sido também uma outra negociação difícil com o Governo.
A variante de Odiáxere, que é uma antiga pretensão do município de Lagos, e que constava no projecto inicial, foi mais uma vez retirada de agenda, no âmbito da revisão desse projecto. Os atrasos na construção das rotundas, nomeadamente, na rotunda do Chinicato e na construção da rotunda de acesso ao Sargaçal, são obras que urge resolver e pelas quais nos temos batido junto das entidades competentes, nomeadamente, o Governo da Nação.
Temos também manifestado a nossa preocupação e acompanhado a posição dos moradores/residentes no troço entre as Quatro Estradas e Espiche que, embora as questões de segurança tenham que ser salvaguardadas, a mobilidade das pessoas não pode ser prejudicada.
Leia também a 3ª parte da entrevista: A evolução financeira da Câmara de Lagos
AM – O Forte de S. Roque, na Meia Praia, está integrado no lote de monumentos que o Estado quer concessionar a privados. Em tempos relativamente recentes, a Câmara tentou que o degradado monumento passasse para o seu domínio. Vai continuar com essa reivindicação ou vê com bons olhos esta solução?
JM – O Forte da Meia Praia foi construído no século XVII e, em determinada altura da sua existência, foi um monumento municipal. Entretanto, o município entregou-o ao Ministério da Defesa para a instalação da Guarda Fiscal, mas com uma cláusula; a de que regressaria ao domínio do município se, ou quando, terminasse essa actividade.
Não regressou. Neste momento, é um imóvel do Estado e está na situação que se vê. Obteve classificação, em 2014, de Monumento de Interesse Público. Recentemente, soube, realmente, que é intenção do Governo incluí-lo no lote de 30 monumentos que vão ser concessionados.
É uma decisão que, naturalmente, não depende da Câmara. Mas entendemos que devemos dar a nossa opinião sobre o destino de um edifício que está numa zona de alguma sensibilidade. Atendendo à nossa situação financeira e ao estado de degradação do imóvel, é possível que a Câmara concorde com esta solução. Mas essa não será uma decisão só minha. Será uma decisão do executivo. O assunto será consensualizado com os órgãos e entidades competentes.
(Entrevista: Guedes de Oliveira/Jorge Eusébio)
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