“Uma vida cheia com um pouco de tudo” – Parte 1
(O texto completo pode ser lido na íntegra na edição impressa do Portimão Jornal ou online, aqui)
Ilídio Poucochinho é uma figura bem conhecida dos portimonenses. Fez teatro de revista, inventou uma rádio ‘pirata’, meteu-se na política, esteve nos bombeiros e foi animador nos jogos dos Portimonense e em vários certames, como a Fatacil ou o Festival da Cerveja de Silves.
Começou a vestir a ‘pele’ de ator cómico amador ainda antes do 25 de Abril de 1974, no Boa Esperança Atlético Clube Portimonense. Na altura, “os dirigentes acharam que a coletividade precisava de ‘sangue novo’ para dinamizar aquilo e, sobretudo, para voltar a pôr de pé o teatro de revista, que tinha tradições no clube, mas que se deixara de fazer”.
Tratava-se de uma tarefa delicada, pois, por um lado, os textos tinham que provocar gargalhadas e palmas entre os espetadores, mas, por outro, não podiam despertar a ira do poder político de então, que, como se sabe, não era o maior apreciador do mundo da liberdade de pensamento e expressão.
Havia ‘espiões’ que iam acompanhando a construção de cada peça e na apresentação era habitual “termos um ou dois elementos da polícia na primeira fila” em missão de controlo. Ainda assim, garante que “nunca tivemos grandes problemas”.
Desde logo porque “como não queríamos prejudicar o clube, tínhamos cuidado com o que dizíamos, sabíamos até onde podíamos ir e conseguíamos equilibrar bem as coisas”. E como, normalmente, as peças eram apresentadas no Carnaval, da parte dos ‘censores’ “havia alguma condescendência, davam-nos, como se diz em linguagem popular, um certo desconto”.
Havia atores que tinham de decorar o texto de ouvido
As revistas foram, desde o princípio, um enorme sucesso popular e um grande acontecimento na cidade. Isso fazia com que muita gente quisesse participar como ator e “todos os anos apareciam dezenas de candidatos, acabando o elenco por ser escolhido a dedo e composto pelos melhores”. Entre outros, lembra que dele fizeram parte pessoas como “o Adriano Pereira, o Carlos Serpa, o Raul de Alvor, o Gonçalinho ou o Luís Conde”. Mais tarde também se destacou Carlos Pacheco, que acabaria por se tornar o principal responsável da revista.
Uma das grandes chaves do sucesso era “irmos buscar pessoas típicas da terra, gente que todos conheciam, que tinham piada e que falavam a linguagem do povo”. Mesmo que tivessem algumas limitações ao nível da técnica de interpretação e não só. Ilídio Poucochinho lembra-se que “havia até atores analfabetos, pelo que o texto tinha que lhes ser lido por outros elementos para que o decorassem de ouvido”. E todos desempenhavam os seus papéis com alegria, dedicando ao teatro muito do seu tempo e à borla, “só lhes pagávamos umas sandes, uns petiscos e umas bebidas”.
Naqueles tempos, o ambiente nas coletividades era vibrante, pois “não existiam discotecas, bares ou outros sítios onde as pessoas pudessem juntar-se e divertir-se”. Eram realizadas muitas festas, peças de teatro, não só de revista, mas mais ‘sério’, e muitas outras iniciativas. Confessa que o Boa Esperança – onde, para além de ator, também foi dirigente – era, para si e para muitos outros, “uma paixão, um caso de amor, houve alturas em que estava lá mais tempo do que na minha casa”.
(O texto completo pode ser lido na íntegra na edição impressa do Portimão Jornal ou online, aqui)
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