Agricultura algarvia com menos trabalhadores e mais tecnologia
(Texto originalmente publicado no Portimão Jornal, que pode ler na versão impressa ou online, aqui).
Ao longo dos anos, o número de explorações agrícolas na região tem vindo a diminuir, tal como o de pessoas que se dedicam a esta atividade económica.
No entanto, diz o diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro, “a área média de cada uma tem aumentado e assiste-se a uma evolução muito relevante ao nível da tecnologia aplicada na produção”. Nos últimos anos têm vindo a ser feitos muitos investimentos, assentes em novas técnicas e com grande preocupação comercial, empresarial e de poupança de água, o que faz com que, hoje em dia, “tenhamos uma agricultura de precisão, competitiva e muito virada para a exportação”.
Uma das culturas mais relevantes “continua a ser a dos citrinos, que recuperou de uma queda grande, com a reconversão de pomares antigos, muitos dos quais tinham sido abandonados”. As novas técnicas adotadas, sobretudo ao nível da rega e da fertilização, levaram a que “os atuais cerca de 15 mil hectares produzam um terço mais do que anteriormente, com 18 mil hectares”.
Este responsável regional destaca o facto do setor primário algarvio ter vindo a diversificar a sua produção e, entre outras, refere a evolução de culturas como a dos abacates, frutos vermelhos e a vitivinicultura, que “conta com mais de quatro dezenas de produtores, com apostas não só nos tradicionais vinhos tintos, mas também nos brancos e rosés”.
Outra área que tem vindo a implantar-se na região é a das plantas ornamentais, com sete dos maiores viveiros nacionais. Trata-se de uma cultura com “forte componente de exportação”.
Potenciar os recursos
Contudo, apesar dos passos positivos que têm sido dados, e embora não haja dados atualizados, o peso do setor no Produto Interno Bruto (PIB) da região continua a ser pouco relevante. Pedro Valadas Monteiro estima que, atualmente, a agricultura (sem a componente florestal) valha cerca de 2,5% do total, subindo para “entre 4,5 e 4,7% se a ela acrescentarmos a vertente da transformação agro-alimentar”.
Há, portanto, ainda muito a fazer para que os recursos agrícolas possam ser devidamente aproveitados e potenciados. Produtos como a alfarroba têm um grande aproveitamento, sendo utilizadas em alimentos para crianças, barras energéticas e doçaria, entre outros, o que faz com que o seu preço tenha vindo a subir, com isso aumentando a rentabilidade de quem a produz.
O mesmo não acontece com muitos outros frutos, sendo importante que se faça investigação nesse sentido e se encontrem novas aplicações que façam com que se tornem mais valiosos.
Remunerar os agricultores que cuidam da natureza
Tal como noutras áreas, também este setor tem nos fundos comunitários uma oportunidade de se financiar para crescer e se tornar mais competitivo. Durante algum tempo, devido às regras existentes, muitas candidaturas algarvias acabavam por não conseguir obter a classificação que lhe permitisse aceder a esses fundos.
Contudo, diz Pedro Valadas Monteiro, essa é uma realidade que está a mudar, pois “com a alteração dos critérios, subiu substancialmente o nível de aprovação dos projetos”. Nesta altura, os serviços regionais de agricultura “têm em carteira para análise até ao final do ano à volta de 90 candidaturas, envolvendo investimentos superiores a 20 milhões de euros”.
Mas, naturalmente que estes apoios são facultados a empreendimentos agrícolas de alguma dimensão, sendo a demonstração da sua viabilidade económica um fator essencial. Isso acaba por deixar de lado a pequena agricultura familiar que “é muito importante, em termos sociais e de ocupação de partes significativas do interior do Algarve”.
Pedro Valadas Monteiro defende que o agricultor passe a ser encarado “não só como empresário, mas também como cuidador e protetor da paisagem e da natureza, pelo que deverá ser remunerado enquanto tal”. Trata-se de uma ideia que, na sua opinião, deverá começar a ser discutida a sério, de forma a que, eventualmente, possa vir a ser contemplada no próximo Quadro Comunitário de Apoio que está a ser preparado.
(Texto originalmente publicado no Portimão Jornal, que pode ler na versão impressa ou online, aqui).
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