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Abandonaram uma capital europeia para viver e trabalhar em Alvor

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(Esta reportagem também pode ser lida na edição impressa do Portimão Jornal ou online, aqui.)

Durante cerca de 15 anos, Luís Fonseca e Inês Almeida viveram e trabalharam, como arquitetos, em Oslo, a capital da Noruega. Até que um dia resolveram mudar de vida e regressar a Portugal, fixando-se em Alvor.

Para quem ‘olha de fora’ parece ter sido uma mudança radical, uma vez que deixaram uma cidade de mais de 600 mil habitantes para se instalarem numa vila de perto de seis mil almas. Mas, na prática, diz Inês Almeida, “o que se passou é que mudámos de um bairro para outro”.

Ainda colocaram as possibilidades de ir para Lisboa ou Porto, mas “nas grandes cidades teríamos menos possibilidades de nos afastar dos padrões tradicionais, de nos reinventarmos e de criar uma equipa internacional”.

Acabaram por concluir que em Alvor conseguiriam encontrar todas as condições para colocar em prática os seus projetos e a forma como queriam exercer a sua profissão.

Para além de que, apesar de ser uma das localidades mais a sul do país, a verdade é que, referem, “é relativamente fácil e rápido chegar ao aeroporto de Faro e, a partir daí, em poucas horas estar em qualquer cidade europeia”.

Boa qualidade de vida

Outra vantagem é o facto de terem ‘à mão de semear’ praticamente tudo o que precisam num raio de poucos quilómetros. O mercado fica a dois passos do seu atelier, tal como os outros estabelecimentos comerciais, as zonas de bares e a escola.

E se, de vez em quando, sentirem saudades das vantagens das cidades, sobretudo na vertente do lazer e do espetáculos, Portimão está a seis quilómetros de distância e até uma ida de carro a Lisboa ou Sevilha implica uma viagem relativamente curta, de menos de três horas.

A isto há a acrescentar as belas praias de Alvor e de Portimão, que lhes permitem ter uma qualidade de vida a que a maioria dos algarvios não parece dar o devido valor.

Outro aspeto positivo a acrescentar é a circunstância de Alvor ser, ao mesmo tempo, uma terra típica, mas cosmopolita, o que é uma vantagem para o casal, que sempre quis ter a trabalhar consigo gente de vários países.

Nesta altura, a equipa é constituída por oito elementos de diversas nacionalidades e sempre que abrem candidaturas não se tem revelado difícil encontrar profissionais qualificados que queiram mudar-se para a pequena localidade.

Baseados na sua experiência, Luís Fonseca e Inês Almeida garantem que Alvor tem quase tudo o que é necessário para atrair ‘capital intelectual’ de qualquer parte do mundo. Vão mesmo ao ponto de dizer que “não há, se calhar, outro bairro na Europa que ofereça tanto como este”.

Para que os seus trabalhadores possam usufruir ao máximo das vantagens de viver naquela vila, uma das opções tomadas foi que o período de almoço – que é tomado na sala de reuniões da empresa – esteja incluído no horário de trabalho, o que lhes permite saírem do escritório a meio da tarde, ainda bem a tempo de irem até à praia, praticar surf, mergulho ou simplesmente beber um copo junto à ria.

O problema da habitação

Mas, nem tudo é perfeito. Para que o Algarve consiga captar mais profissionais internacionais, é preciso olhar a sério para o mercado da habitação, pois “há grandes dificuldades em encontrar uma casa ou um apartamento a preços razoáveis”.

Outro dos aspetos menos positivos que apontam é o dos transportes públicos, que precisa de dar um salto, sobretudo ao nível ferroviário e da sua ligação com o rodoviário.

Apesar de se encontrarem instalados no Algarve, a esmagadora maioria dos projetos profissionais a que a dupla e a sua equipa estão ligados continuam a ser noruegueses.

Quando anunciaram que queriam mudar de ares, apresentando uma proposta de expansão da empresa A-lab, os seus patrões não levantaram problemas. Os dois atribuem esta atitude ao facto de “conhecerem bem o Luís, pois têm uma ligação de 15 anos, quando entrou na empresa ela tinha apenas quatro funcionários e, ao longo desse período, transformou-se numa organização de considerável dimensão, que conta com mais de 150 elementos”.

As novas tecnologias permitem que quem está no escritório de Alvor possa trabalhar, em tempo real, em parceria com colegas que se encontram em Oslo. Hoje isso acontece com frequência e sem problemas, mas no princípio “uma das dificuldades com que nos deparámos foi a fraca qualidade da internet”, sendo difícil manter em ligação, entre os dois países, o sofisticado e pesado software de que precisam para trabalhar.

Sustentabilidade acima de tudo

Luís Fonseca e Inês Almeida são grandes defensores da sustentabilidade, que consideram ter de estar na base de todo o ciclo de vida dos edifícios, “desde a concepção, passando pela construção e utilização e até pela demolição”.

Para que esse objetivo seja cumprido é fundamental que os imóveis sejam bem concebidos e planeados, usando estes profissionais, para o efeito as novas tecnologias, em especial, o sistema Building Information Model (BIM).

Trata-se de uma ferramenta que permite que os edifícios sejam criados digitalmente, antes de terem uma dimensão física, o que possibilita a avaliação de todos os recursos de que necessitam para ser uma realidade, a optimização da sua manutenção e do seu eventual desmantelamento.

É, assim, possível que, antes de ser colocada a primeira pedra no terreno, se preveja com grande exatidão a quantidade e tipo de materiais que vão ser precisos e se antecipem problemas que teriam custos muito superiores se apenas fossem detetados na fase da construção ou já com os imóveis em funcionamento.

A empresa de que fazem parte vai mais longe nesta vertente e criou um autêntico laboratório, em que são estudados, em grande pormenor, todos os elementos que possam afetar os projetos, inclusivamente os relacionados com a exposição solar e o vento.

Ideias para Alvor

Luís Fonseca e Inês Almeida são autênticos apaixonados por Alvor e consideram que a localidade tem condições únicas para que, com algumas melhorias, possa converter-se num autêntico caso de estudo sobre a forma como as vilas e os bairros devem servir as pessoas.

Nesse sentido, têm apresentado ideias e realizado alguns estudos. Na opinião destes arquitetos, o ponto nevrálgico, que deve ser potenciado, é o mercado, que pode ser um local de encontro e de convívio ao longo de todo o dia e não apenas na parte da manhã.

Para isso é necessário que seja desenvolvido um trabalho no sentido de perceber quem são os seus atuais e potenciais futuros utilizadores e que tipo de produtos e respostas esperam ali poder encontrar. Por exemplo, poderia proporcionar o serviço de check-in de alojamento local ou até do próprio aeroporto de Faro.

A partir daí haveria, então, que reorganizar o espaço público envolvente, para que possa ser melhor aproveitado e levar a que a população e os visitantes tenham à sua disposição, de forma fácil e rápida, praticamente tudo o que precisam, o que fará com que aquela zona de Alvor ganhe uma ‘vibração’ e capacidade de atração bem superiores às que tem.

A questão do estacionamento

Uma das queixas que, frequentemente, se faz é que há pouco estacionamento automóvel próximo do centro da vila. No entanto, estes profissionais dizem que isso não corresponde totalmente à verdade.

Para provar essa ideia, “sobrepusemos o mapa de Alvor, desde o mercado até às zonas de estacionamento, com os de grandes centros comerciais, como o Aqua” e chegaram à conclusão que as distâncias são basicamente as mesmas.

Portanto, na opinião de Luís Fonseca e Inês Almeida, a vila pode, perfeitamente, funcionar como um centro comercial a céu aberto, até com vantagens acrescidas em relação às grandes superfícies, que não têm a sua beleza, história, cultura, a ria e as praias.

E, para isso, não seria necessária uma revolução, mas proceder a pequenas alterações, que tornassem mais apelativa uma deslocação a Alvor. Em termos físicos, haveria que “aproveitar o que existe e reorganizar e revitalizar espaços públicos em função das necessidades”. Defendem, por exemplo, a transformação de algumas das ruas principais em zonas de coexistência entre carros e peões.

Outros dos problemas que detetam é a falta de passeios dignos desse nome, que permitam aos turistas ir a pé dos locais onde estão alojados até ao centro de Alvor e de todos os locais sentirem o apelo de andar a pé com segurança. Uma maior aposta na criação de condições para que se pratique desporto ao ar livre e no fomento e dinamização das pequenas coletividades são outras das sugestões que apresentam.

A nível mais geral, consideram que não faz sentido a competição que, com muita frequência, se nota entre concelhos algarvios. Com a evolução tecnológica, que torna possível que muita gente trabalhe a partir de qualquer sítio, e a facilidade de apanhar um avião e em poucas horas estar numa cidade diferente, “a concorrência que atualmente existe é global”.

Portanto, o que faz sentido é que a região e o país criem condições para vencer essa competição, o que implica que as coisas sejam planeadas com a preocupação de que haja complementaridade e não rivalidade entre os diversos concelhos e cidades.

(Esta reportagem também pode ser lida na edição impressa do Portimão Jornal ou online, aqui.)

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