Vá à praia de comboio ver… um cemitério único (com VÍDEO)
Esta praia tem duas características que a tornam única no Algarve, no país e, provavelmente, até no mundo.
Uma delas é a possibilidade de podermos chegar de comboio ao seu areal. E já vamos fazer essa viagem.
Estamos a falar da Praia do Barril, que fica instalada numa extensão de areia situada entre a Ria Formosa e o Oceano Atlântico que, no total, tem cerca de 11 quilómetros e que a nascente também alberga as praias da Ilha de Tavira e da Terra Estreita.
Para ali chegar podemos dar corda aos sapatos e ir a pé ou escolher sermos transportados de comboio que é, naturalmente, a opção mais cómoda.
A viagem é curta, dura apenas uns 7 ou 8 minutos, mas é uma experiência que vale bem a pena.
São duas as composições sobre carris que transportam os turistas de e para a praia e se cruzam sensivelmente a meio do percurso de cerca de um quilómetro.
As âncoras eram pintadas com alcatrão líquido
Entre 1841 e 1966, esta praia funcionou como uma base – ou arraial, como então se dizia – da pesca do atum. Famílias vindas maioritariamente de Santa Luzia, vila que fica a poucos quilómetros de distância, mudavam-se para aqui em meados de março e só voltavam para casa no fim da época, em setembro.
Cruzavam a Ria Formosa de barco a remos até à zona mais próxima da Praia do Barril. O resto do percurso era feito a pé.
Mal chegavam, a sua primeira missão era pintar com alcatrão líquido as âncoras, para evitar ou minorar os efeitos da corrosão provocada da água salgada.
Após a pintura, eram carregadas por 16 homens até aos barcos que as lançavam em alto mar, no local das armações que eram estrategicamente colocadas na rota dos atuns.
E isso leva-nos à segunda característica única da praia do Barril. Cerca de 250 dessas âncoras ainda estão expostas na areia. Trata-se de um autêntico cemitério de equipamentos que eram essenciais neste tipo de pesca.
Consta que foram mantidas ali mesmo após a empresa que explorava a atividade, a Companhia de Pescarias “Três Irmãos” ou Barril, ter falido, em 1966, na esperança de um dia vir a ser possível reabilitar a pesca do atum.
Isso não aconteceu e as âncoras ficaram no areal, junto aos edifícios, que antigamente serviam de improvisado lar aos pescadores e suas famílias ao longo de cerca de metade do ano.
De volta a um comboio muito especial
Para além de habitações, estes edifícios também funcionavam como escritórios, arrecadações, cantina e taberna.
Com a saída dos pescadores deste areal e o advento do turismo, os imóveis acabaram por ser convertidos em restaurantes e outros equipamentos de apoio aos visitantes.
E, pronto, depois de um passeio pela praia, de apreciar as âncoras que, noutros tempos, foram essenciais para o ganha pão de muita gente, está na hora de dar o dia de praia como concluído e apanhar de volta um comboio muito especial.
Assista ao vídeo aqui: