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Xico Barata: O cantor sportinguista que recusou ir para o Benfica

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(Esta reportagem também pode ser lida na edição impressa do Portimão Jornal e online, aqui)

A música e o futebol fizeram, desde sempre, parte da vida de Xico Barata. Nascido em 1964, na província do Bié, em Angola, como quase todos os miúdos, começou muito cedo a dar pontapés na bola.

Como também já eram evidentes as suas capacidades musicais, ainda criança participou num programa de talentos na televisão, no qual interpretava músicas de Nelson Ned e Roberto Carlos, o que lhe deu um contacto precoce com a área profissional que mais tarde acabaria por abraçar.

A zona onde a sua família vivia era controlada pela UNITA. Um dia, no ano de 1975, “Savimbi disse ao meu pai que a guerra ia apertar e que os mulatos seriam dos principais alvos”, recorda. Foi isso, que o levou a aproveitar a ponte aérea então existente para trazer a família para Portugal.

Apesar de se ter deparado com um ‘mundo’ muito diferente daquele a que estava habituado, Xico Barata rapidamente se adaptou, embora “tenha estranhado o frio que aqui se fazia sentir”.

O jeito que tinha para o futebol levou-o às camadas jovens do seu clube do coração, o Sporting, pelas mãos de Aurélio Pereira, que descobriu e moldou craques como Figo, Futre e Cristiano Ronaldo, entre muitos outros.

Aliás, um dos seus companheiros da altura era Futre, que já então demonstrava todo o talento que fez dele um dos melhores jogadores portugueses de todos os tempos.

Xico Barata ficava maravilhado com a forma como aquele colega tratava a bola e “se as pessoas ainda hoje se impressionam com as fintas e golos que veem das gravações de Futre, imagine o que era assistir àquilo, ao vivo, todos os dias”, diz, com nostalgia.

O famoso esquerdino começou por dar nas vistas muito jovem e, segundo lembra Xico Barata, para além do clube leonino, também o Benfica o queria, mas o Sporting conseguiu chegar-se à frente e convencer o pai do jogador.

Aliás, o agora cantor está convencido que, “na altura, até devia gostar mais do Benfica, sobretudo por causa do Chalana, que era um futebolista que ele muito apreciava, sempre que podia, ia vê-lo jogar”.

“O maior erro da minha vida foi recusar o Benfica”

Por volta dos 17 anos de idade, Xico Barata ruma ao concelho de Portimão, para jogar na Torralta. Era avançado, tinha boa capacidade técnica e física, marcava muitos golos e começou a dar nas vistas e a ser alvo da atenção de grandes clubes nacionais, entre eles o Benfica, que o queria contratar.

Xico Barata garante que o próprio Eusébio envolveu-se na tentativa de o colocar a jogar de águia ao peito, fazendo parte de uma delegação benfiquista que foi a sua casa. Apesar disso, resistiu à investida, por ser sportinguista, inclusivamente “foram familiares meus que fundaram o Sporting de Bié”, pelo que havia uma relação emocional muito forte com o clube do leão, que o impediu de dar o sim ao Benfica.

Hoje confessa que “essa decisão foi o maior erro da minha vida”. Na altura ainda era júnior, mas se as coisas corressem bem teria a possibilidade de, em pouco tempo, passar para a equipa sénior e desenvolver uma carreira de futebolista bem diferente da que acabou por ter.

Como um azar nunca vem só, na transição para os seniores, ainda na Torralta, sofreu uma pubalgia grave. A primeira operação não correu bem, teve de fazer uma segunda, esteve praticamente duas épocas sem jogar e, a partir daí, tudo mudou.

Quando voltou aos relvados, para além de se sentir psicologicamente afetado, também notou grandes problemas ao nível da coordenação, “não conseguia correr da forma a que estava habituado, foi muito complicado”, lembra.

No final de um jogo, o pai foi brutalmente honesto e disse-lhe que que fosse tirar o curso de treinador porque como jogador não conseguiria ir longe. Apesar de ter seguido o conselho, e de começar a preparar a transição do relvado para o banco, ficou muito magoado com o progenitor e disse-lhe que, a partir daí, podiam “falar de tudo menos de futebol”.

Mudança de posição de avançado para médio

Mas, afinal, os seus dias como jogador ainda não estavam terminados. Numa partida, o treinador colocou-o a jogar mais recuado, como médio, “fiz uma grande exibição e estava encontrada a minha nova posição, tinha perdido velocidade, mas em contrapartida estava mais experiente, do centro do terreno conseguia ser útil à equipa de outras formas, era uma espécie de treinador, mas dentro de campo”.

Os jogos seguintes confirmaram que tinha grande potencial naquela posição, pelo que, embora fosse pensando na possibilidade de se tornar treinador, continuou a fazer aquilo que lhe dava maior prazer, que era jogar futebol.

Numa altura em que representava o Palmelense, conheceu o então treinador de futebol Octávio Machado, que era adjunto do Porto, que “me incentivou a ir para clubes do norte, onde podia ganhar mais dinheiro”.

Não seguiu o conselho, até porque na sua cabeça estava a desenhar-se um ‘plano B’ para depois do futebol: apostar a sério no mundo da música. Com essa ideia em mente, regressou ao Algarve, onde representou clubes como o Estombarense, o Mexilhoeira Grande e o Messinense, antes de colocar ponto final na carreira, ao serviço do Aljezurense.

Nessa fase, começou a cantar em hotéis, bares e em diversos outros eventos e iniciativas e as coisas começaram a correr bem.

Os portugueses “têm uma forte relação com África, gostam da nossa cultura, dos nossos ritmos e música e, na altura em que comecei, havia poucos cantores angolanos a atuar, pelo que tinha pouca concorrência”, diz com um sorriso. Considera que outra das razões para ter conseguido desenvolver uma longa carreira “é a capacidade de comunicação que tenho”.

O encontro com Cristiano Ronaldo

Xico Barata tem desenvolvido a sua carreira musical sobretudo no Algarve, mas também faz frequentes incursões ao norte do país e aos Açores e Madeira.

Aí conheceu outro dos seus heróis do futebol, Cristiano Ronaldo, quando atuou num restaurante onde CR7 festejou o seu aniversário, pouco depois de ter trocado o Sporting pelo Manchester United.

O português já tinha conquistado os súbditos de ‘Sua Majestade’ que gostam de futebol e “perguntei-lhe como é que ele, que na altura era muito franzino e magro, conseguia destacar-se num campeonato tão competitivo, exigente e físico”.

Cristiano Ronaldo “respondeu-me que esperasse dois ou três anos para ver as mudanças, pois, paralelamente aos treinos, estava a desenvolver um programa específico que lhe permitiria melhorar bastante a sua capacidade física”.

Uma das razões para ser fã do atual avançado do Al Nassr é “exatamente ele ter chegado onde chegou devido ao seu trabalho e perseverança e não porque tivesse nascido com a técnica e talento de, por exemplo, Messi e isso tem muito mais valor”.

O artista celebrou recentemente 36 anos de lides musicais e confessa “o enorme prazer que foi ter tido a meu lado, nessa festa, três gerações, a dos avós, pais e netos”.

Xico Barata ainda assim não colocou totalmente de lado a sua outra grande paixão, o futebol. Na atualidade, presta apoio a uma equipa de crianças do Grupo Desportivo de Lagoa, no concelho vizinho, clube como qual “tem uma relação espetacular”.

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