Tozé Brito revela episódios dos bastidores da música portuguesa

O pequeno auditório do Teatro Municipal de Portimão (TEMPO) funcionou, na quinta feira à noite, como uma espécie de máquina do tempo.

O responsável pela ‘’viagem’ foi Tozé Brito, o convidado desta edição do Choque Frontal ao Vivo, programa radiofónico apresentado por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira.

O cantor e compositor, responsável por muitos temas emblemáticos da música portuguesa, recordou diversos episódios e protagonistas com quem trabalhou ao longo das últimas décadas.

Lembrou, por exemplo, uma música que compôs a pedido de Adelaide Ferreira, após uma zanga com o namorado, os telefonemas que recebia às 3 da madrugada das integrantes das Doce, a ameaçar acabar com o grupo, ou a dificuldade que foi colocar Victor Espadinha a cantar.

Foram tantas as revelações feitas que dificilmente cabiam num único texto, pelo que vamos relatá-las em vários ‘capítulos’. Leia-as aqui, aqui e aqui.

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Não havia nada para fazer

Tozé Brito atribui a sua precoce ligação à música por no Porto, cidade onde cresceu, na altura não haver grande coisa para os jovens fazerem. “Íamos ao cinema e depois juntávamos vários amigos e criávamos um grupo musical”. Primeiro, de forma muito rudimentar, praticamente a tocar em tachos e panelas e com uma guitarra ‘rasca’, mas, aos poucos “fomo-nos endividando para comprar instrumentos” e sustentar a paixão pela música.

Da parte da família não havia grandes entraves, o pai só lhe dizia que “enquanto tiveres boas notas, podes fazer o que quiseres, quando isso deixar de acontecer, acaba-se a música”. O interesse pela escola, pelo menos naquela fase, não era muito, mas “lá fui estudando e passando de ano” para evitar correr o risco de ter de deixar a música.

Logo aos 16 anos, integrado no grupo de que fazia parte, os ‘Pop Five’, gravou um disco, mas é durante um espetáculo que se dá o primeiro e decisivo salto na sua carreira. Lembra-se de estar em palco e, em determinada altura, reparar que os elementos da Quarteto 1111 se encontravam nas primeiras filas, a ver a atuação do seu grupo, “uma situação que, na altura, não era muito habitual, havia uma certa rivalidade entre as bandas, era quase sinal de fraqueza estarmos a ver os outros a atuar”.

O que acontece é que Mário Rui, um dos membros do Quarteto 1111 ”tinha sido mobilizado para a Guiné eles precisavam de um baixista para o substituir”.

No final do concerto, o José Cid vai falar com ele e convida-o para entrar na banda, o que aceitou, de imediato. No entanto, como, para isso, tinha de passar a viver na zona de Lisboa, o que lhe traria mais custos fixos, em vez de ficar com uma parte dos cachets que o Quarteto 1111 fazia, opta por negociar um salário mensal.

A justificação que dá é que “no verão, o grupo tinha muitos espetáculos e, portanto, faturava bastante, mas no resto do ano não era assim e eu sabia que, à medida que recebia dinheiro, acabava por gastá-lo” e ficava em situação difícil no período em que existissem poucas atuações. Assim, embora, eventualmente, acabasse por ganhar menos que os outros, garantia que todos os meses tinha dinheiro para pagar as suas despesas e ainda sobrava muito para, por exemplo, “ir a Inglaterra comprar calças à boca de sino”.

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“Só pensava em chegar ao fim da canção sem dar barraca”

Foi o que considera ser o seu lado pragmático a falar mais alto. Ao contrário de muitos artistas, confessa que “sempre tive um plano B, C e D” para a eventualidade da música não dar certo. Trata-se de uma atividade, em certo ponto, parecida com o futebol, em que quem chega a uma equipa de topo vive bem, mas “quantos milhões de futebolistas nunca conseguem jogar em grandes clubes?”, pergunta.

A música é “algo muito precário e de um momento para o outro pode deixar de funcionar, hoje estás bem, estás a ter imenso sucesso, as coisas estão a correr-te bem e, de repente, chega malta nova, os gostos mudam e ficas para trás”.

Para além disso, nunca gostou muito de atuar a solo. Integrado em grupos “achava graça e gostava porque estava acompanhado de amigos, mas quando tinha de cantar sozinho sentia que não tinha nascido para aquilo e só pensava em chegar ao fim da canção sem dar barraca”.

Também tinha a convicção de não possuir uma grande voz, apesar de cantar afinado. Portanto, não reunia as condições ideais para ser uma grande vedeta em cima do palco. Mas, em contrapartida, “tinha a convicção de que era um valor seguro a escrever músicas, em termos de composição sabia o que valia, agora em cima do palco, como cantor, não era brilhante, nunca fui nem sou, não vale a pena ter ilusões”.

(A gravação do programa pode ser ouvida no sábado, 25 de março, a partir das 20h00, na Alvor FM, em 90.1 ou online, aqui)

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