Tozé Brito: “Enquanto tiver mais sonhos do que memórias não vou parar”

(Quarta e última parte da reportagem sobre a passagem de Tozé Brito pelo programa Choque Frontal ao Vivo)

Ao longo da sua carreira, Tozé Brito escreveu canções para muitos grupos e cantores.

É, por exemplo, da sua autoria o maior sucesso de Adelaide Ferreira, “Papel Principal”, que tem uma história engraçada por trás.

Recorda Tozé Brito que, na altura, a cantora chateou-se com o namorado e ligou-lhe, “de cabeça perdida”, a pedir-lhe “uma balada a dizer que acabou tudo, que não quero mais nada com ele e que eu é que saio por cima, do género do ‘Still Loving You’, dos Scorpions”.

Acabou por perceber que tipo de música Adelaide queria, foi para casa e escreveu o “Papel Principal”. Umas semanas depois, ela tinha feito as pazes com o namorado, mas a zanga temporária valeu a pena, pois tinha nascido um grande sucesso. Modesto, Tozé Brito diz que, em grande medida, isso ficou a dever-se ao facto “de ela lhe ter dado uma interpretação brutal, aliás, tudo o que a Adelaide canta vale logo 10 vezes mais”.

Outro clássico é “Recordar é Viver”, interpretado por Vítor Espadinha e também escrito por Tozé Brito, que conta como tudo aconteceu: “o Vítor Espadinha é fundamentalmente um excelente ator de teatro de revista que, em determinada altura, ficou sem trabalho e pediu-me uma música para ver se ganhava algum dinheiro”.

Só que quando o ouviu cantar “joguei as mãos à cabeça, ele não cantava nada, mas como tinha boa voz e um timbre lindíssimo, disse-lhe: vou-te pôr a falar e depois fazemos um refrão super fácil”.

Compôs a música, foram para estúdio e “a parte falada ele fez a brincar, em meia hora, só que depois estivemos dois dias a gravar o refrão de 15 segundos”.

Outro personagem que conheceu foi o poeta José Carlos Ary dos Santos, no que diz ter sido “uma experiência inesquecível”. Tinha composto uma música para Carlos do Carmo e os dois foram a casa de Ary dos Santos, a quem cabia a tarefa de escrever a letra.

O poeta propôs que ficassem a beber um pouco antes de passarem ao trabalho, ’atirou-se’ ao gin e “quando dei por isso, em cerca de uma hora, a garrafa quase que tinha ‘voado’, pensei que ele já não ia conseguir escrever nada”. Finalmente, Ary dos Santos pede-lhe que toque a música, “pego na viola, começo a tocar, ele põe-se a tamborilar, pede-me para ir mais devagar, conta as sílabas, enquanto faz uns hieróglifos muito esquisitos e uns tracinhos por cima”.

Quando a música acaba, levanta-se, vai para o quarto e 15 minutos mais tarde volta com “uma letra que encaixava como uma luva na música que eu tinha feito e que era genial, era literatura da boa”.

Tozé Brito está de regresso aos discos com o ‘irmão mais velho’, José Cid

A bronca que Herman José ia dando no Festival da Canção

Uma faceta pouco conhecida de Tozé Brito foi a de escritor, em parceria com António Tavares Teles, de sketches para o personagem José Estebes, de Herman José.

Conta que os dois foram ‘selecionados’ porque “de futebol, o Herman percebe zero, ele não sabe o que é um penalty, um pontapé de canto, com quantos jogadores joga uma equipa, mas, como é muito inteligente, percebeu que o futebol tem uma potencialidade incrível e convidou-nos então para escrever para aquela personagem”.

Só que “passávamos horas a escrever, chegávamos lá e ele ‘dava cabo daquilo tudo’, começava com a história da ‘pomada’, atirava-se para trás, caía da cadeira, mas a piada estava ali, ele só precisava de uma base a que se ‘agarrar’ para saber o que havia de dizer e fazer”.

Tozé Brito também escreveu, juntamente com António Avelar Pinho, a música “A cor do teu batom”, que Herman José levou ao Festival da Canção de 1983 e com a qual ficou no segundo lugar.

E ainda bem que não ganhou, pois se isso tivesse acontecido “era uma bronca que nem imaginam”, pois, de acordo com os regulamentos do Festival, apenas cantores portugueses podiam representar o país na Eurovisão e “o Herman tem nacionalidade alemã”.

O Festival foi ganho por Armando Gama, com “Esta balada que te dou” e, no fim, “o Herman estava feliz como se tivesse ganho, fartava-se de contar piadas, toda a gente estranhava, mas para ele foi um alívio ficar em segundo, porque senão tinha sido era a maior bronca do mundo”.

Tozé Brito está de regresso aos discos com o ‘irmão mais velho’, José Cid

Projetos para o futuro

Uma das próximas tarefas de Tozé Brito passa por escrever um livro que, faz questão de esclarecer, “não é uma biografia, é uma ‘autoficcão’, é baseado em experiências que vivi, mas troco o nome das pessoas, dos lugares e mudo as datas todas, de forma a que apenas eu e quem viveu esses episódios comigo saiba de quem estou a falar”.

Trata-se de algo que sempre quis fazer e está tão entusiasmado com o projeto que já decidiu que, depois do primeiro, ainda vai escrever mais dois livros.

Paralelamente, promete continuar a escrever canções, está aí a sair um disco com José Cid e continua a cumprir as tarefas de vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

E, a terminar, aos 71anos de idade, garante que, “enquanto tiver mais sonhos do que memórias, não vou parar”.

(A gravação do programa pode ser ouvida no sábado, 25 de março, a partir das 20h00, na Alvor FM, em 90.1 ou online, aqui)

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