Jorge Serafim e Brasa Doirada no Choque Frontal ao Vivo
(Texto: Júlio Ferreira)
Jorge Serafim, o Alentejo e o seu cante, foram reis no passado dia 10 de Maio no pequeno auditório do TEMPO na nossa cidade de Portimão em mais uma emissão do Choque Frontal ao Vivo.
Antes de regressar a casa, uma última passagem pelo hall, uma zona improvisada para saborear os produtos regionais de forma a recarregar as baterias gastas no decorrer da gravação, faz as delícias dos fãs, que, por esta hora, procuram uma recordação da passagem do contador de histórias, seja em forma de autógrafo, registo fotográfico ou através de palavras, abraços e apertos de mão.
O convívio instiga a partilha de histórias e opiniões, artistas e fãs completam a sua associação simbiótica, as promessas de um regresso rápido não se fazem demorar. O ambiente está bom e aconselha-se, mas a necessidade de regressar ao hotel para recuperar do cansaço da viagem aos Estados Unidos obriga Jorge Serafim a uma interrupção no momento para arrumar as coisas todas e iniciar o processo de despedida.
Mas recuemos no tempo para relatar esta história desde o início. O relógio marca 18:30, faltam poucos minutos para a hora marcada. Um Hotel em Lagos é o ponto de encontro. Enquanto espero que o “alentejano” desça, recorro de imediato à cafeína como catalisador energético.
Jorge Serafim não demora a juntar-se a mim, uma simpatia, como sempre. A distância percorrida entre Lagos e Portimão foi uma verdadeira viagem ao passado e presente deste homem, culto e que a cada momento nos surpreende com a sua simplicidade e humildade.
As viagens mentais a espectáculos realizados no Algarve, não se fazem tardar, discutem-se opiniões sobre as melhores performances. A chegada a Portimão leva-nos directamente ao restaurante onde toda a gente nos espera. São 19:20 e ainda faltam cerca de duas horas para a subida ao palco.
Umas cantigas com os Brasa Doirada ajudam toda a equipa, incluindo equipa técnica, a desmoer o jantar e a queimar tempo. Os ponteiros do relógio marcam a hora perfeita para o grupo ir em direcção ao TEMPO. Os minutos que antecedem a gravação ao vivo do Choque Frontal podiam ser gastos a abrir garrafas ou a desfrutar dos pequenos privilégios que a vida de artista ainda consegue oferecer. Mas não. Como bons amantes e praticantes da cultura, Jorge Serafim e os Brasa Doirada embarcam numa espécie de reconhecimento ao espaço, dizendo ser uma espécie de tradição no backstage.
Todos os momentos são regados com humor. Aqui está uma boa forma de descomprimir e obrigar os ponteiros do relógio a rodarem mais depressa. O momento lúdico estende-se até à hora prevista para a entrada dos mais de 170 convidados.
Subitamente, às 21:30 o Miguel Neves, rompe pelos camarins dentro e alerta para o início das hostilidades. O habitual nervosismo que antecede a entrada de palco invade-nos, mas dissipa-se de imediato.
O Ricardo Coelho assume os comandos da maquinaria e atira-se à introdução de mais um especial deste “Choque Frontal ao Vivo”, rastilho eficaz para explosão certa, quando o alentejano Jorge Serafim entram em palco, pega no microfone e garante gargalhadas de forma irrepreensível.
O público responde na mesma moeda, acompanhando. A casa vai a baixo. Uma hora e meia em que ficámos a conhecer mais do homem, do pai, do marido, do filho, que existe para além do humorista, do escritor e do contador de histórias, intercalado com o “perfume” do Alentejo em jeito de música trazido pelo Brasa Doirada.
Por mais que Jorge Serafim assuma uma postura brincalhona, alinhando, à semelhança do comum mortal, em momentos de distracção e diversão, e parecendo encarar tudo com extrema leviandade, a verdade é que abordam o seu trabalho de forma séria, sem sequer dar azo a que se possa pensar o contrário.
Mesmo que brinque com tudo o que o rodeia, incluindo-se a si próprio no objecto de estudo, Jorge Serafim veste-se a rigor na hora de se apresentar ao vivo e dar o tudo por tudo, puxando pelo público e deixando as entranhas em palco, de forma a não decepcionar aqueles que o seguem. É esta a principal diferença entre o ser e o parecer.
Júlio Ferreira
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