Livro revela dados novos sobre a construção da Igreja Matriz de Portimão
Primeira parte de uma entrevista a Nuno Campos Inácio, a propósito do lançamento do seu mais recente livro, “Igreja Matriz de Portimão – 550 Anos de História (1467-2017)”.
Leia aqui a 2ª parte da entrevista
Algarve Marafado (AM) – Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
Nuno Campos Inácio (NCI) – A ideia surgiu a partir de um desafio lançado pelo padre Mário Sousa e vem na sequência da elaboração do meu anterior livro, sobre a história do Condado de Vila Nova de Portimão.
Na altura fui à Igreja a ver se havia documentos desse período que pudesse consultar e, no seguimento da conversa que tive com o padre Mário Sousa, ele sugeriu que fosse escrita uma obra sobre os 550 anos da Igreja Matriz, até porque o documento relativo à comemoração feita em 1467 da Ordem Episcopal para a construção da Igreja fui eu que o localizei quando estava a fazer a pesquisa para esse livro.
Algarve Marafado (AM) – Foi fácil encontrar os dados e documentos que permitissem escrever uma história de 5 séculos e meio?
Nuno Campos Inácio (NCI) – O padre Mário Sousa, desde logo, colocou à minha disposição o arquivo da Igreja, portanto, tive acesso a tudo o que havia de documentação primária – e penso que talvez 90% nunca tivesse sido consultada para efeitos relacionados com a história – o que já foi uma grande ajuda.
A partir daí, e com a consulta das bibliografias de outras obras já publicadas, fui andando à procura de outros documentos e também pedi a historiadores e investigadores meus amigos que, quando encontrassem alguma coisa que tivesse a ver com Portimão e com a Igreja Matriz, me chamassem a atenção e, de facto, tive outros contributos, do Vasco Reys, do Marco Sousa Santos, que a fazer investigações para outros fins, encontraram documentos que me interessavam.
Entretanto, fui fazendo consultas, pedindo e adquirindo documentos aos vários arquivos e consegui elaborar a obra.
AM – Quanto tempo levaste a fazer o livro?
NCI – À volta de um ano e meio. Concluí a história do Condado há dois anos e pouco depois comecei a fazer este.
AM – O que é que esteve na base da construção da Igreja?
NCI – Tratou-se de uma iniciativa popular. Isso é um dado novo relativamente à história que se conhecia. Normalmente, estava assente que começou a ser construída em 1476 por iniciativa de D. Gonçalo Castelo Branco e isso não corresponde à verdade histórica porque há documentos que falam de uma iniciativa popular, em que se pedia ao Bispo que se construísse a Igreja em 1467, o que foi deferido no mesmo ano.
AM – De onde é que veio o dinheiro que permitiu a sua construção?
NCI – Esse é outro dado que vem confirmar que a sua construção partiu de uma iniciativa popular.
Fui encontrando documentos sobre impostos lançados à população de Portimão para as obras da Igreja, o que significa que não houve a figura do patrono como noutros locais. O dinheiro terá sido arrecado uma parte por dízimos e outra por contribuições da população, por vezes, de forma voluntária e outras sob a obrigação do pagamento de impostos.
AM – A Igreja levou muito tempo a ser construída?
NCI – A Igreja já aparece em funcionamento em documentos de 1480 e já como colegiada, o que significa que não tinha apenas um padre mas um órgão semelhante ao de uma Sé Catedral, composta pelo prior, pelo tesoureiro e por beneficiados. Tinha, logo que entrou em funcionamento, cinco sacerdotes que já estavam no activo em 1480.
Portanto, nesse ano, a Igreja já estava em funcionamento, o que é incompatível com a ideia de que o início da sua construção foi em 1476, e já mais compatível com a de que o arranque deu-se em 1467. O facto da Igreja estar em funcionamento não quer dizer que já estivesse acabada, a construção ia sendo feita por fases, mas estava, pelo menos, em condições de lá ser celebrada missa, mas, mais do que isso, tinha residências dos sacerdotes, que estavam obrigados a viver no seu interior.
(Na 2ª parte da entrevista vamos falar da evolução da Igreja Matriz de Portimão ao longo dos séculos seguintes)
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