Algarve: as ondas gigantes de Sagres (com VÍDEO)
Em Sagres, não há hipótese, quando o mar está de mau humor, o caso é mesmo grave.
Não se põe cá com paninhos quentes, a fingir que está tudo bem.
Quando se sente ferido, traído ou enxovalhado, este mar não é do género de dar a outra face. Não é dos que acham que não vale a pena fazer grande alarido, que somos todos amigos, que é com diálogo que os problemas se resolvem e que a roupa suja lava-se e em casa e, de preferência, em voz baixa, para não incomodar os vizinhos.
Não, em Sagres quando as coisas não lhe correm de feição, o mar barafusta, grita, berra e parte até para a agressão física.
Os seus alvos prediletos são as enormes arribas, que apanham violentas cargas de ondas, umas atrás das outras, com uma intensidade cada vez maior.
Mas também os seres humanos podem ser vítimas colaterais dos contínuos disparos de canhões de água.
Nestas alturas, não convém facilitar. É melhor não nos aproximarmos demasiado desta espécie de Adamastor irado dos nossos dias.
É prudente não nos chegarmos à beira da falésia, não vão as ondas disparadas lá de baixo conseguir chegar até nós, dar-nos um banho salgado e frio ou, pior ainda, arrastar-nos consigo para o fundo deste mar agreste e selvagem.
Mesmo quando não está virado do avesso não é grande ideia desafiá-lo. Muitas tragédias já têm acontecido quando há quem pense que é possível medir forças com ele e sair vitorioso de tão desequilibrado braço de ferro.
Um espetáculo fabuloso
Este mar é justo e generoso e gosta de deixar que de si os humanos retirem grandes e saudáveis peixes. Mas não aprecia abusos. E quando está assim, indomável e sem paciência, há que dar-lhe tempo e espaço.
O mar de Sagres faz lembrar um daqueles homens à moda antiga: trabalhador, enérgico, disciplinado e de princípios sólidos, dos quais não abdica, não abre mão, não troca, aluga ou vende.
E, sobretudo, exige respeito por aquilo que oferece, por servir de autoestrada marítima e, por essa via, de ser fonte de ligação entre vários povos.
Respeito também pelo que representa em termos económicos e históricos e por ser uma das principais imagens de marca do nosso país.
A partir deste local e olhando o panorama fascinante que lá em baixo se desenrola chega-se à conclusão que, se calhar, há muitas semelhanças entre a natureza e o ser humano. Ali há drama, raiva, beleza, violência e encantamento.
Parece que estamos a ver, em ecrã mais do que gigante, um filme clássico, de grande orçamento, com um ator soberbo que merecia ser candidato aos Óscars.
É um privilégio que devemos aproveitar enquanto dura. Até porque, daqui a pouco, depois de sacudir a sua fúria, o mar de Sagres deixa de oferecer este belo espetáculo.