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Esta associação oferece ‘corações’ de esperança a doentes com cancro

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Em Portimão há uma associação que se dedica a dar força e ânimo a doentes de cancro e familiares através da oferta de… corações.

Tudo começou em 2021, quando Ana Andrés, a atual presidente da associação, foi diagnosticada com cancro e internada no Instituto Português de Oncologia (IPO) para realizar os necessários tratamentos.

Na altura, o mundo estava a ser atacado pela pandemia da Covid-19, o que implicava um vasto número de restrições, em especial, ao nível das deslocações.

Isso tornava a sua situação ainda mais complicada, do ponto de vista emocional, pois fazia com que estivesse afastada da sua família e amigos.

Para se tentar manter ocupada diz ter “desafiado um grupo de doentes a começar a fazer corações em tecido para doarmos às crianças internadas”.

A resposta foi positiva e, às tantas, já faziam aqueles símbolos de esperança, onde, em cada um deles gravavam uma palavra de fé e esperança, também a adultos, médicos e enfermeiros.

Ao regressar ao Algarve “continuei com esta ideia sozinha”, mas por pouco tempo, pois logo começaram a surgir voluntárias, que a ajudaram a desenvolver a tarefa e a produzir e entregar corações no IPO.

Um movimento que alastrou ao país

Uma delas é Dina Barradas que lembra ter, entretanto, surgido a ideia de também ‘fornecer’ corações as unidades hospitalares do Algarve, cujos utentes “merecem o mesmo carinho que os de Lisboa”. O problema é que a ‘empreitada’ era grande, e como, “com os voluntários que tínhamos era impossível chegar a tanto sítio, sentimos a necessidade de criar uma associação para através dela conseguirmos aumentar o número de voluntários”.

Constituída em 8 de fevereiro de 2024, a “Associação Dar Amor” ajudou a que o movimento “tenha tido um crescimento brutal”.

Um crescimento que, diz Ana Andrés, tem ultrapassado em muito as ‘fronteiras’ de Portimão e do Algarve, havendo voluntárias a trabalhar um pouco por todo o país. Isso permitiu que, pelas suas contas, “já tenhamos distribuído mais de 2 mil corações solidários”.

Um das responsáveis por isso é Amarílis Salema, que na ambulância que conduz, transporta muitas pessoas que sofrem de cancro.

À frente de todas as que fazem a primeira viagem coloca um saco com corações, convidando-as a tirar um.

Esse simples gesto leva a que veja surgir nos seus rostos semblantes diferentes daqueles que tinham quando entraram, que normalmente, são de “raiva, dor, frustração ou apreensão”, o que é normal, pois estão a ir a um hospital “sem saber qual será a sentença final dos médicos”.

Exposição itinerante para ver

Outra das entusiastas por este projeto é Ana Marisa Brito, responsável pelo livro «Coração das Emoções».

A autora diz que o objetivo é “ajudar as crianças que se encontram em internamento pediátrico hospitalar. Não quisemos limitar só à oncologia pediátrica, mas abranger todas”.

Um dos objetivos da obra é levá-las a “reconhecerem as suas próprias emoções, perceberem o que estão a sentir, pois, dessa forma, é mais fácil geri-las e lidar um pouco melhor com a doença”.

O livro foi apresentado no mês passado, integrado num conjunto de iniciativas que a associação levou a cabo na Casa Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, no âmbito da programação do «Outubro Rosa». Algumas das colaboradoras estiveram a trabalhar, no local, na arte de bem fazer corações solidários.

Também as artistas Júlia Matos – uma autodidata de apenas 16 anos – e Márcia Guilardi se associaram a esta iniciativa, pintando vários quadros que aí puderam ser apreciados.

No caso de Márcia, “fiz sete quadros, através dos quais tentei apresentar a questão da dor, da tristeza e até da solidão, que existe em pessoas com este problema, mesmo quando estão rodeadas de familiares e amigos, porque, às vezes, o desespero interno é muito grande. Mas também pintei quadros que demonstram que a esperança ajuda a superar batalhas e desafios”.

Essa mostra itinerante está agora patente no Hospital Particular de Alvor.

Onde está o meu coração?

Os corações são vistos por muitos dos que o recebem como um símbolo de esperança, fé e solidariedade. E tem proporcionado episódios que revelam isso mesmo, contam estas voluntárias.

Por exemplo, um homem que vinha do hospital fez parar a ambulância, porque dizia ter-se esquecido de algo muito importante. Pensando tratar-se de uma carteira ou algo do género, o motorista voltou para trás e acabou por constatar que o que o doente tinha inadvertidamente deixado para trás era o ‘seu’ coração solidário.

Ou o de uma pessoa que foi operada e, quando acordou, a primeira coisa que perguntou à enfermeira foi: “onde está o meu coração?”

Outra situação recordada por Amarílis Salema é a de uma senhora que viajou na ambulância que conduz numa altura em que tinha acabado de perder o filho. Encontrava-se obviamente arrasada, mas ao ver que Amarílis tirava fotos a outros utentes a exibirem os corações de tecido, também fez questão de tirar uma.

Muitas destas pessoas ficam espantadas por estranhos lhes oferecerem algo sem querer nada em troca. Algumas querem pagar, mas ao receberem a resposta de que é mesmo uma oferta, mais tarde acabam por se inscrever na associação e também elas passam a ajudar outros doentes.

Ana Marisa Brito diz que estes corações não são apenas terapêuticos para quem os recebe, mas também para quem os faz.

Muitas das voluntárias são senhoras de uma certa idade, frequentadoras de universidades sénior ou centros de convívio, que, dessa forma, sentem que estão a fazer algo útil.

Ao mesmo tempo, a atividade funciona como uma ajuda para, de alguma forma, algumas delas fugirem à solidão.

A ambição de conseguir uma sede

Mas se a confeção e entrega de corações é o principal cartão de visita da associação, há muitas outras iniciativas que já desenvolve ou pretende vir a desenvolver no futuro, através de parcerias, tendo como objetivo ajudar o máximo possível os doentes de cancro e respetivas famílias.

Nesta altura, há várias pessoas e entidades que ajudam através da sua atividade profissional, proporcionando aos doentes, por exemplo, cortes de cabelo, tratamentos de beleza, sessões de yoga, apoio psicológico e emocional e disponibilização de informações e esse é um caminho que o grupo quer aprofundar.

Muita da matéria prima usada na criação dos corações é doada, mas, ainda assim, a associação precisa de algumas verbas para sobreviver e cumprir a sua missão.

Os valores pagos pelos associados (joia de 5 euros e uma quota mensal de um euro) são uma ajuda. Para além disso, têm t-shirts para venda e participam em feiras.

Uma das ambições das suas dirigentes é conseguir vir a ter uma sede própria, uma vez que, atualmente, é a habitação de Ana André que é usada para esse fim.

Pode saber mais e seguir a atividade da Associação Dar Amor através do seu site, disponível aqui.

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