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O histórico vício português de pedir dinheiro emprestado

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Para a generalidade dos portugueses, os problemas resultantes da dívida pública ou das parcerias público-privadas são relativamente recentes. Mas, se olharmos com alguma atenção para a nossa história, não é bem assim.

O período de glória do nosso percurso enquanto país foi o dos Descobrimentos mas, mesmo para nos abalançarmos a este empreendimento, tivemos que nos endividar.

E, quando Vasco da Gama foi descobrir o caminho marítimo para a Índia, juntamente com as naus do rei também seguiram naus privadas, o que significa que as célebres parcerias público-privadas já existiam nessa altura.

Estes elementos histórico foram recordados por João Morgado, autor de Porto de Saudade, o livro vencedor da 1ª edição do Prémio Literário de Poesia Manuel Neto dos Santos, promovido pela Arandis Editora.

A apresentação da obra teve lugar, este Domingo, no Café do Castelo de Silves, um palco adequado para se falar de história portuguesa, uma temática que, visivelmente, apaixona o autor. Aliás, o livro com o qual venceu este prémio é uma reflexão, em forma de poesia, sobre a vida das mulheres que ficavam em terra, enquanto que os seus homens partiam para a conquista de novos mundos e das dificuldades a que tinham de fazer face.

Através de um poema em jeito de Canção de Amigo, João Morgado procura, no fundo, passar a ideia de que a glória dos Descobrimentos teve consequências nem sempre positivas e que, sobretudo, o país não soube tirar daí as vantagens e os rendimentos que seriam expectáveis.

É que, lembra, em determinada altura, “todo o dinheiro que o império dava era gasto na sua manutenção”. Isso levou a que, ainda no reinado de D. João III, se tenha constatado que “os cofres estavam vazios” e, quando D. Sebastião quis avançar para a aventura africana, “teve de andar a pedir dinheiro a toda a gente”. Como, entretanto, acabámos por ser derrotados, “não pagámos a ninguém, pelo que já somos devedores à Europa desde essa altura”.

João Morgado dedica-se não só à poesia, como também, à prosa, tendo-se afirmado no panorama literário português com as obras Diário dos Infiéis e Diário dos Imperfeitos. Na vertente do romance histórico destacam-se Vera Cruz, sobre a vida desconhecida de Pedro Álvares Cabral, e um polémico romance biográfico de Vasco da Gama, Índias

A qualidade literária da sua obra foi destacada por Nuno Campos Inácio, da Arandis Editora, e por Manuel Neto dos Santos, que dá nome ao prémio. Entretanto, já foi escolhida a vencedora da 2ª edição deste concurso literário. Trata-se de Filomena Paula Sequeira, com a obra O Bailado das Palavras.

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