O silenciamento da música das mulheres
O papel das mulheres na música tem sido frequentemente apagado ou menorizado. Esta foi uma das principais teses desenvolvidas pela musicóloga Inês Thomas Almeida, no decorrer de mais uma conferência “Filosofia na Cidade”.
Organizado pelo grupo de Filosofia do Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes, de Portimão, o evento decorreu no passado dia 27 de maio, no Auditório do Museu de Portimão.
Um dos casos referidos para justificar a opinião da conferencista foi o de Clara Schumann, que ficou conhecida apenas como esposa do compositor Robert Schumann mas que, no entanto, “em vida, ela é que era a celebridade do casal, era um prodígio incrível e o ganha-pão da família”.
Isso contribuía para “as frequentes depressões e tentativas de suicídio de Robert”, que era visto como ‘o marido’ de uma compositora e intérprete genial. Mas quem acabou por ficar na história da música foi Robert e não Clara.
Inês Thomas Almeida considera que isso deve-se ao facto de “não se enquadrar na narrativa dominante a circunstância de uma mulher compor e ter poder”.
Ao longo dos séculos, lamentou, os grandes feitos foram atribuídos a homens, enquanto as mulheres foram relegadas para um patamar secundário.
No caso da música, acontecia que, normalmente, “as partituras de mulheres não eram editadas e passadas às escolas de música”, o que significa que acabavam por não ser estudadas, nem tocadas e por se perder.
Mesmo a informação relativa a feitos e, neste caso, a composições de mulheres que eram impressas acabavam por ter “pouca atenção e estudo” por parte de investigadores.
A musicóloga referiu que “o que sabemos da história é-nos contado pela documentação que chegou até nós e que espelha as prioridades de quem a produziu” e não toda a realidade que se vivia em determinada época.
Por exemplo, na Idade Média quem produzia essa informação eram, essencialmente, os monges que “tinham por prioridade tocar e difundir a música que eles próprios compunham”.
Embora nas últimas décadas tenha havido uma evolução positiva a este nível, com as mulheres a conseguirem maior visibilidade e reconhecimento, Inês Thomas Almeida considera que é importante continuar a insistir nas questões de igualdade.
Isto porque, entre outras razões, garante que “há muitos indicadores que nos dizem que as sociedades em que há mais paridade e igualdade de género são mais produtivas, felizes e têm maior poder económico”.
Com esta sessão foi retomado o ciclo de conferências “Filosofia na Cidade”, depois de um interregno de três anos motivado pela pandemia. O professor Carlos Café refere que esta é uma forma de colocar “a Filosofia fora da sala de aula e também ‘fora da caixa’, para se relacionar com outras áreas do conhecimento e das artes”.
Para além da intervenção de Inês Thomas Almeida, a sessão contou com a leitura de um poema da poetisa Lesia Ukrainka, em ucraniano e português, pela jovem aluna ucraniana Paula Demydyuk e com os momentos musicais preparados expressamente sobre obras de Clara Schumann por alunas e alunos da Academia de Música de Portimão.
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