Opinião

Padres redentoristas despedem-se das terras de Lagos

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Foi há cinquenta e três anos atrás. Uma comunidade missionária, a dos Padres Redentoristas, chegava a terras de Lagos.

Ainda na casa dos vinte e dos trinta anos, os recém-chegados tinham um mundo pela frente. Eram esses primeiros guerreiros o Padre José Palos Fernandes, o Padre Faustino Ferreira Caldas e o Padre António Ferreira. Consigo traziam a ilusão de darem uma nova visão ao cristianismo por terras de Lagos.

E, para isso, tinham uma vasta área geográfica que lhes fora confiada. Com excepção de São Sebastião e de Odeáxere, todas as demais paróquias de Lagos estavam debaixo da sua alçada. A sua influência estendia-se também a Vila do Bispo com a Paróquia de Budens e outros locais de culto, como a Salema e a Figueira, a receberem os frutos da sua ação pastoral. Nos últimos anos, também São Sebastião e Odeáxere passaram a estar a si confiadas.

Com este vasto campo de intervenção, muitos foram os que passaram por estas terras do sul. Mas nunca ficaram fechados na sua pequena comunidade. O trabalho e o convívio com outras paróquias da então vigararia de Lagos era uma realidade. Além do convívio intenso, as iniciativas conjuntas de ação pastoral eram um desafio constante. E entre elas salienta-se a publicação do jornal Farol do Sul; um órgão das paróquias de Lagos, Aljezur e Vila do Bispo. Chegou a juntar também as paróquias de S. Teotónio e Odemira. A docência passou também pelas mãos de alguns membros da comunidade redentorista de Lagos.

O inconformismo constante e a leitura da realidade diária ditaram novas iniciativas e nova intervenção pastoral. Foi o que aconteceu após 74, os anos da então revolução dos cravos. Os debates em Santa Marais sobre Fé e Política estiveram na ordem do dia. E muitos, crentes e não crentes, quiseram participar e deixar a sua marca.

Também nos anos que vieram a seguir, as Gospel Night, Noites de Evangelho, encheram vários espaços das terras de Lagos e de outros pontos do Algarve da beleza e da garra da gente mais jovem. Foram noites inesquecíveis. O mesmo se poderá dizer da encenação de peças teatrais em que o debate e a reflexão obrigavam à introspeção. Poder-se-á também dizer que o Grupo Coral de Lagos, embora com a sua independência, saiu da Comunidade Redentorista de Santa Maria.

No meio de todas estas iniciativas, muitos eram os que, da comunidade redentorista, partiam e muitos outros que chegavam. Esta renovação constante, embora mantivesse a mesma linha, trazia consigo estilos diferentes. É por isso que a acção social começou a estar mais presente nos corredores de Santa Maria. Mas com o tempo a passar notava-se que a idade começava a avançar. E a renovação começou a não ter solução. Sem Padres para renovar ou para acompanhar os que já cá estavam, começou-se a ouvir falar que os Redentoristas, mais hoje ou mais amanhã, iriam deixar as terras de Lagos. A ideia, um pouco distante, começou a ser apressada com a força da idade e com a doença que parecia uma inevitabilidade. 

A intervenção cirúrgica a que o Padre Abílio Almeida foi submetido, além de uma convalescença prolongada, deixou-o debilitado; e com dificuldade em ser recuperado. Por sua vez, o Padre António Ferreira há muito que vinha lutando contra uma doença prolongada que o vinha debilitando. E depois de um internamento que se ia prolongando no tempo, começava a regredir e acabaria por não resistir. E sem possibilidades de renovação, os Redentoristas acabaram por dar por terminada a sua acção pastoral por terras de Lagos.

Um almoço de convívio, a cheirar a despedida, teve lugar no passado 23 de Julho para se testemunhar o apreço, a admiração e o afeto de toda a população das paróquias a si confiadas. E alguns foram os presentes que fizeram questão de tomar a palavra para testemunhar quão importante foi a ação redentorista nas suas vidas. Apesar da sua partida, irão continuar graças às sementes que, ao longo dos anos, lançaram e fizeram frutificar.

Continuarão ainda por mais dez ou quinze dias a assegurar o trabalho pastoral até à sua partida definitiva. Mas para trás fica, com a força do Espírito, um trabalho a prosperar que nem o tempo conseguirá apagar.

(Opinião, Guedes de Oliveira)

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