João Teixeira Simplício: «Quero trazer o cidadão comum para a política séria» (entrevista, 1ª parte, com vídeo)
Primeira parte da entrevista a João Teixeira Simplício, candidato da Alternativa Democrática Nacional (ADN) à presidência da Câmara de Portimão, que explica o porquê da sua candidatura e fala das propostas que tem ao nível da habitação.
Algarve Marafado (AM): O que o fez assumir esta candidatura à presidência da Câmara de Portimão?
João Teixeira Simplício (JTS): Em primeiro lugar, moro em Portimão, vim para cá com 12 anos de idade. Desde muito jovem sempre tive convites para participar em associações. Sempre tive um grupo de pessoas que achava que as minhas ideias deveriam ser colocadas para além daquilo que é comum da conversa de café. Ou seja, que seriam ideias válidas e que deveriam ser publicadas ou transmitidas em público.
Posso dizer que sou um jovem na política pois só entrei nela aí há uns 6 anos atrás. Isso porque entendi que o veículo por excelência para podermos mudar alguma coisa não pode ser outro que não seja a via política.
Sabemos que os políticos estão um pouco mal vistos, com problemas de corrupção, o que faz com que o cidadão comum queira estar mais afastado e menos integrado do ambiente político. E tomei esta decisão porque quero fazer exatamente o contrário, quero trazer o cidadão comum para a política, mas para a política séria, que vem apresentar soluções válidas para a população.
As câmaras municipais têm estado no tecido empresarial praticamente a concorrer com as empresas privadas e isso, para nós, ADN, não faz muito sentido.
Uma câmara municipal tem uma responsabilidade social para com os munícipes e a primeira missão deverá sempre ser servir os munícipes.
O que temos visto é câmaras municipais, e a de Portimão não é exceção, envolvida em grandes projetos de eventos que na realidade se os espremermos um pouco trazem benefício para o comércio e o turismo, mas para que é que o cidadão comum ganha com eles?
Eventos na época baixa
AM: Imagine que ganha as eleições, o que é que mudava, em termos de eventos?
JTS: Temos a câmara municipal demasiado centrada em eventos de verão. Sabemos que o verão é muito bom, deve continuar a ser muito bom, porque é a base da economia mas o que pretendemos é que a câmara se torne um dinamizador de eventos, mas na época baixa, não para nivelá-la com a alta, mas para esbater um pouco o fosso que existe entre as duas.
AM: Mas, em termos de eventos concretos, iria acabar com alguns dos que existem no verão?
JTS: Não, não temos planeado acabar, pretendemos é incentivar eventos culturais, desportivos, recreativos, mas não unicamente no verão, porque nessa época já temos uma elevada concentração de visitantes e turistas.
Aliás, o inverno no Algarve é uma época desejável e apetecível, em termos de clima e temperatura, não só para portugueses do país inteiro como para pessoas do norte da Europa. Não entendemos é porque que nos encostamos somente ao verão e esquecemos o resto do ano.
De ajudante a ‘comandante das tropas’
AM: Diz que começou na política há cerca de 6 anos, mas é a primeira vez que concorre a cargos de maior visibilidade?
JTS: Exatamente.
AM: E como é que está a ser essa experiência?
JTS: Está a ser um desafio, que estou a viver com intensidade. Entendo que é um desafio enorme porque iniciei a minha vida política numa posição secundária, como ‘ajudante’, alguém que estava cá para trabalhar e não para assumir o cargo A, B ou C.
Entretanto, foi-me feito o convite para passar a ‘comandante das tropas’, digamos assim. Aceitei porque, conforme já referi, para fazer alguma coisa que possa eventualmente trazer a diferença terá de ser pela via política.
Agora, também entendo que nem toda a gente tem a disponibilidade para dar a cara ou o peito às balas, como se costuma dizer.
Para algumas pessoas dar a cara representa um perigo
AM: E, provavelmente, é por isso que o ADN apenas apresenta candidaturas à câmara e à freguesia da Mexilhoeira Grande…
JTS: Neste momento, sim, porque há muita vontade das pessoas em participar não ativamente, mas indiretamente. Há muita vontade em participar e promover uma mudança aqui, em Portimão, mas há muito poucas pessoas disponíveis, por compromissos que tenham assumido, por questões profissionais ou outras, preferem estar à margem daquilo que chamo de estar na política ativamente. Até porque dar a cara, para algumas pessoas, representa um perigo.
“Vamos trabalhar para eleger um vereador”
AM: Que objetivos eleitorais tem? Nas últimas Legislativas, o ADN teve à volta de 600 votos, a ideia é ter mais do que isso?
JTS: É sempre um desafio. É óbvio que ter mais votos do que nas últimas Legislativas ou Autárquicas é obrigatório, mas vamos trabalhar para eleger, pelo menos, um vereador.
AM: Mas para isso tem de aumentar bastante o número de votos…
JTS: Temos consciência disso e também sabemos com quem é que estamos a trabalhar e quem temos a apoiar-nos não da forma ativa, de peito aberto, mas a apoiar-nos. A nossa meta é eleger um vereador, em termos de câmara. No que diz respeito à Assembleia de Freguesia da Mexilhoeira Grande, vamos ver se conseguimos eleger alguns elementos.
AM: Um dos maiores problemas do concelho é o da habitação, que é escassa e muito cara para o cidadão comum. A este nível o que é que propõe?
JTS: É realmente um problema. Temos as casas demasiado caras para o cidadão comum.
Temos casas indisponíveis porque estão nas mãos de proprietários que por preferência e por decisão deles só as querem arrendar para férias.
Nós defendemos a propriedade privada e, portanto, é óbvio que não vamos entrar aqui com políticas que vão no sentido de obrigar as pessoas. O que vamos fazer é criar um pacote de incentivos para os proprietários que tenham optado no passado para usar as suas habitações para segunda habitação ou para rendimento somente para férias possam, ver que é apetecível a sua colocação no mercado do arrendamento anual.
Queremos, também, incentivar a criação e apoiar cooperativas locais e disponibilizar-lhes meios para que possam construir, para haver mais casas disponíveis.
Temos projetos que incluem criar arrendamento de médio prazo usando património que esteja devoluto e à espera de melhores soluções, criar unidades de habitação para as tornar disponíveis para profissionais que venham cá para desemprenhar determinadas funções em regime de comissão, sejam professores, enfermeiros ou pessoal técnico. Todos os anos é um drama para os professores deslocados porque vêm para cá fazer não sei quantas horas e só o preço de um arrendamento aqui leva-lhes a verba toda que auferem.
Poer local, central e investidores privados juntos para acabar com a falta de habitação
AM: Mas, de qualquer forma, para dar a volta a essa situação é necessário um grande investimento da parte da câmara. Tem ideia de quantos milhões de euros seriam necessários?
JTS: Não posso saber porque não conheço, não tenho disponível o património que a câmara eventualmente possa ter. Mas pensamos em recorrer a financiamento do poder central e municipal. O nosso projeto não inclui a câmara municipal como única responsável, tem é que ser a entidade que abre a porta de investidores privados e até do poder central para que isto possa acontecer.
Devemos criar residências para acolher pessoas por dois, três anos, no limite, quatro. Porquê? Porque essas residências também estariam pensadas para jovens que vêm estudar para o município de Portimão. Sabemos que, hoje em dia, um curso é tirado três, quatro anos e, em princípio, quem vem para cá com essa finalidade não está a pensar tornar-se residente em Portimão definitivamente.
AM: Mas também há muitos jovens em Portimão que precisam de habitação permanente…
JTS: Sim, mas esta vertente de que tenho falado é para a habitação temporária para pessoas que possam estar cá alguns anos. Queremos que médicos, professores, quadros superiores tenham habitação disponível em Portimão.
AM: Outro dos problemas é haver habitação a ser construída em Portimão que, supostamente, é para as classes média e médio-baixa e para jovens casais, com investimento do Estado e creio que terrenos da autarquia, e depois vai-se a ver e o preço a que é vendida é praticamente o de mercado ou pouco menos do que isso. Aí também terá de haver medidas para fazer baixar os preços, não?
JTS: Tem que haver com certeza. Temos o setor imobiliário que é extremamente forte em Portimão e não vamos apresentar a este setor a proposta de ir perder dinheiro para que possamos ter habitação para as pessoas virem morar para Portimão.
Nós temos um pacote de medidas, com incentivos e benefícios, que promovam ou levem a que este setor também tenha interesse em efetivamente disponibilizar este tipo de habitação, tendo em conta aquilo que são as necessidades do município.
Temos um mercado aberto, qualquer estrangeiro pode vir comprar e sabemos que o poder de compra dos portugueses a comparar com os emigrantes portugueses que estão lá fora e com os cidadãos do norte da Europa é muito menor.
O nosso programa traz um pacote de medidas e incentivos para estes empresários em que o setor da habitação do seu stock, digamos assim, seja direcionado sem que eles sejam prejudicados.
Assista aqui ao vídeo:
