O candidato que quer pôr o edifício da Câmara de Portimão a render 100 milhões de euros
A Rádio Portimão (106.5 FM), em colaboração com o Algarve Marafado, está a levar a cabo uma ronda de entrevistas aos candidatos à presidência da Câmara de Portimão.
Esta Segunda-feira, o entrevistado foi Mário Cintra, de 63 anos de idade e engenheiro de profissão, que encabeça a lista do «Nós, Cidadãos!»
Aqui fica a primeira parte do essencial da entrevista.
Leia aqui a 2ª parte da entrevista
Sendo até há pouco tempo militante do PSD, o que o levou a assumir este desafio de avançar como candidato pelo «Nós, Cidadãos!» à presidência da Câmara de Portimão?
Saí do PSD porque, desde há muito tempo, não me revejo na política do partido. É uma política de direita, uma política que vai contra os objectivos dos cidadãos e, obviamente, eu e muitos outros militantes, como não nos revemos nesta política de direita, afastámo-nos do PSD.
Posso dizer que nunca votei em Pedro Passos Coelho e, desde há muito, que não voto no PSD. Acrescento, ainda, e é possível verificar, que há mais de três anos que não pago quotas e não participo em nenhum acto eleitoral vinculado ao PSD.
Mas cortou definitivamente com o PSD numa altura em que se estavam a definir os candidatos às autárquicas, Portanto, essa saída teve a ver com estas eleições, não?
Não teve a ver com estas autárquicas. Quando se diz por aí que eu saí porque o PSD não me quis como 2º da lista, isso não é verdade. Houve uma proposta da Comissão Política que poderia ir em 2º lugar, mas nunca fui directamente confrontado com essa questão. Obviamente que nunca aceitaria ir em 2º lugar numa coligação com o PSD/CDS liderada por José Pedro Caçorino, isso estava fora de causa.
E se fosse ao contrário?
Havia algumas possibilidades, mas isso dependia muito dos apoios.
Está a dizer que o PSD, nestas autárquicas, acabou por render-se ao CDS?
Obviamente. Podemos até dizer, brincando um bocadinho, que o CDS fez uma OPA [Oferta Pública de Aquisição] ao PSD.
Quais são os seus objectivos nestas eleições, o que será para si um bom resultado?
Um bom resultado é ganhar as eleições. Sabemos que se ganharmos vamos ter pela frente uma batalha difícil porque um dos nossos principais objectivos é o saneamento financeiro da autarquia. Eu sei que outras forças políticas aparecem com grandes propostas, mas isso é demagogia, é, mais uma vez, estar a enganar os portimonenses.
A candidatura do «Nós, Cidadãos!» apareceu porque uma grande parte dos portimonenses não se revêem nos partidos políticos tradicionais. Penso que os que vivem da política – e são alguns, aqui em Portimão – já estão desacreditados.
O «Nós, Cidadãos!» aparece numa perspectiva de dar voz aos mais de 58% de portimonenses que não votam. Poderei ainda acrescentar que em Portimão existem 47.600 eleitores, não se compreende como é que o Partido Socialista ganha a Câmara com 5.970 votos. Os portimonenses têm que ir às urnas, têm que ir votar, não podem ficar em casa porque o nosso concelho tem grandes assimetrias.
Sabíamos que a crise era aguda mas, pelas voltas que temos dado pelo concelho para conhecer as lacunas e ouvir os cidadãos, temos aí constatado que a situação é dramática.
Quer dar alguns exemplos?
Posso dar-lhe o seguinte exemplo: ontem estivemos na Mexilhoeira Grande e verificámos uma canalização de água em que mudaram o contador e, na parte de fora, na rua, há um tubo corroído e a canalização ainda é em amianto. O dono da moradia já fez diversas participações à Câmara e à EMARP sem qualquer tipo de resposta e está lá à vista esta situação.
No vosso programa eleitoral dizem que querem substituir a tubagem da água existente na Mexilhoeira Grande exactamente porque referem que tem amianto, o que estará na origem de uma maior incidência de cancro na freguesia. Não está a ser um pouco alarmista? Tem a certeza de que a tubagem da água é em amianto?
Nós temos algumas certezas porque, se era em 2009, e não foi ainda mudada essa tubagem… mas a nossa proposta não é só a remoção dessa tubagem, é também levar água canalizada a uma grande parte da população da Mexilhoeira Grande, nomeadamente, nos Montes de Cima em que as pessoas não têm água canalizada nem saneamento básico.
E é incompreensível que, em 2017, existam cidadãos que ainda não sabem o que é um esquentador, nem possam tomar um banho de água quente. Mas o que é mais grave ainda é que as propostas do PS e de Isilda Gomes têm aparecido nos programas eleitorais e nada se fez em prol dos cidadãos da freguesia da Mexilhoeira Grande. Os cidadãos da freguesia sentem-se um pouco defraudados com isto e abandonados.
Ontem, constatámos mais uma situação de que vários residentes já fizeram muitos pedidos à Câmara para que os autocarros do Vai e Vem e não só fizessem uma paragem na Mexilhoeira Grande. Dizem que sim, que vão fazer, que vão resolver, mas tardam em aparecer essas soluções. Temos que acabar com as propostas demagógicas e ser correctos e transparentes e dizer: não posso fazer porque não tenho dinheiro ou competência para isso.
“Não estamos aqui com projectos e propostas demagógicas, são propostas honestas e muito concretas”
No seu programa eleitoral há uma proposta que salta logo à vista e que tem a ver com um projecto envolvendo o edifício da Câmara que pode render 100 milhões de euros. A sua equipa descobriu petróleo por baixo do edifício da Câmara? Que ideia é esta?
A nossa proposta de saneamento financeiro da Câmara passa por aí e não só, vai ter três pilares fundamentais.
O primeiro pilar é elaborar o Manual do Investidor. Todo o investidor que apareça no nosso concelho tem que ser acarinhado, porque vai criar postos de trabalho e riqueza para o concelho e tem que saber o que a Câmara lhe poderá disponibilizar em termos de apoios financeiros, em termos de impostos, onde é que ele poderá localizar o seu negócio.
O segundo pilar é a criação de uma incubadora de empresas…
Foi recentemente criada uma.
Isso não é a nossa perspectiva de uma incubadora de empresas, é um projecto de intenções de pré-campanha eleitoral como foi a gare rodoviária. Nós não defendemos uma incubadora de empresas dessa natureza. A nossa ideia é a construção de um imóvel para que, através de apoios comunitários e protocolos com a Universidade do Algarve, a Universidade de Évora, o Politécnico de Beja, o Politécnico de Setúbal e outras universidades, canalizar para Portimão os projectos de doutoramento e mestrados aprovados, o que não é mais do que empresas que querem iniciar as suas actividades. Mas empresas inovadoras nas áreas do turismo, agricultura e pescas.
E vai construir um edifício de raiz para absorver essas empresas?
Exactamente.
Quanto é que o edifício poderá custar?
Há apoios da União Europeia e poderemos garantir à volta de 80% por essa via. Obviamente que os outros 20% poderão ser angariados através dos protocolos com as universidades.
Mas é preciso construir um edifício novo quando há tantos por aí mal aproveitados e mesmo não aproveitados? Não seria melhor agarrar num desses e instalar a incubadora, por exemplo, na zona comercial para ser um factor de dinamização?
É uma perspectiva, mas a nossa ideia é uma incubadora de empresas no sentido mais lato. Queremos ter ali 200 ou 300 empresas, que têm de ter oficinas. Imaginemos que aparece um inovador na área do turismo de lazer, que quer começar a construir uma prancha de surf e para isso precisa de uma oficina. Portanto, a incubadora terá que ter uma oficina para disponibilizar a esse empresário para que consiga desenvolver a sua actividade.
Se vai fazer oficinas e fábricas para toda a gente que aí se instale vai precisar de um edifício enorme.
Poderá ser um edifício similar a um que existe em Sines. É um edifício com alguma grandeza, mas que tem o objectivo de desenvolver o concelho e Portimão tem que mudar o seu paradigma.
O outro vector é, exactamente, o edifício municipal. É lamentável que o edifício não permita a todo o cidadão portimonense assistir a uma sessão de Câmara ou da Assembleia Municipal porque, se estiver uma cadeira de rodas, não consegue subir as escadas. E é lamentável que isso aconteça já há mais de 42 anos.
Já foram desenvolvidos alguns contactos e temos grandes hipóteses de, através da concessão de direito de superfície, por um período entre 50 e 75 anos, garantir a construção ali de um hotel de 5 estrelas e de um casino, mantendo o edifício a sua fachada principal. Não se trata de alienação de património, é, simplesmente, a valorização do edifício da autarquia. O edifício é dos portimonenses, só que vai ser valorizado, através da construção de um hotel casino em troca de à volta de 100 milhões de euros.
Mas Portimão já tem um casino.
Mas pode ter dois, três ou quatro, o Mónaco tem mais do que um casino. Isto numa perspectiva de trazermos para o interior de Portimão turismo de qualidade e assim conseguir revitalizar a zona da baixa de Portimão.
Já teve algum contacto com algum grupo hoteleiro ou isso é apenas uma mera intenção?
Já desenvolvemos contactos com alguns investidores. Nós somos um movimento de cidadania, não estamos aqui com projectos e propostas demagógicas, são propostas honestas e muito concretas, não estou aqui numa perspectiva de enganar quem quer que seja, isto são projectos que têm alguma sustentabilidade.
Outra questão que poderá surgir é a seguinte: então e a Câmara para onde é que vai? Já temos, também, contactos efectuados e vamos construir um edifício na parte antiga da cidade, desenvolvendo aquela zona abandonada e não é necessário um edifício com a grandeza do que existe actualmente.
No fundo, parece estar a querer desenvolver uma espécie de parceria público-privada, que tem dado maus resultados, a nível local e nacional. Por um lado, quer revogar a concessão do estacionamento entregue a privados, mas, por outro, quer concessionar a utilização do edifício da Câmara…
Não se trata de uma parceria público-privada. Através do direito de superfície vamos entregar o edifício camarário, mantendo a fachada principal, a um grupo de investidores, a uma organização que já tem hotéis e que vai ali construir um hotel casino de 5 estrelas. O edifício mantém-se dos portimonenses, estamos, simplesmente, a valorizar algo que, para nós, vale 100 milhões de euros.
Como sabe, na Praia da Rocha existem muitas queixas de residentes relativamente ao barulho que os turistas fazem. Ao trazer um casino, um hotel e muitos turistas para o centro da cidade, que é, em boa medida, uma zona residencial vai provocar também esse tipo de reacção e contestação. Aliás, mesmo do ponto de vista legal, já verificou se aquele edifício pode ser utilizado para esse tipo de actividade?
Relativamente à questão legal, a nossa parte jurídica já analisou essa situação e não há qualquer tipo de problema. O único problema que pode haver é que essa questão tem que ir à Assembleia Municipal e não sabemos se vamos ter maioria e se a oposição vai rejeitar a proposta.
A questão das queixas que podem surgir por parte dos residentes não o preocupa?
Na Praia da Rocha temos um turismo de massas, há bares insonorização não foi muito bem acautelada. Em Portimão, neste hotel, vamos ter um turismo de luxo e essa questão dos barulhos irá ser analisada e verificada se vai ou não perturbar a população, mas também já temos um hotel no centro da cidade e não tem havido queixas.
E até pode não ter a vertente de casino…
A proposta é que tenha, porque é através do jogo que revertem as receitas para a autarquia.
(Entrevista conduzia por João Cardoso, Jorge Eusébio e Rui Miguel)
Leia aqui a 2ª parte da entrevista
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